quarta-feira, 28 de março de 2012

Estrelas em tons de medo

fizeram do Sol uma lua e da lua o silêncio. cantaram a esperança e sussurraram sonhos. mas no céu pintaram por cima das estrelas em tons de medo. dançaram connosco, em sorrisos e passos que faziam vibrar a própria terra, mas quando a música acalmou silenciaram-na como que para sempre. abraçaram-nos na nossa hora mais frágil e garantiram-nos o mundo enquanto pareciam querer secar-nos as lágrimas. mas apenas para nos tornarmos ainda mais vulneráveis, mais expostos ao caos do mundo, mais perdidos e sós numa multidão tão vasta, e ainda assim tão isolada. fizeram-nos crer num abismo em que acreditámos cair.

e hoje reinam eles, fazendo da magia e dos sonhos de ontem o medo de hoje e a incerteza do amanhã. hoje chora-se baixinho, para não se ser ouvido. hoje tem-se medo de sonhar. hoje, sem o calor da cor no horizonte, e sem o cantar da mão do futuro, e sobretudo com a voz electrónica e infinitamente distante de ecrãs hipnóticos sem alma, estamos cada vez mais longe de podermos ser nós.

mas por mais que tentem esconder as estrelas por detrás de cenários falsos; por mais que queiram silenciar a música que se tocava aqui e em todo o lado; por mais que nos tenham levado a esperança, e por mais que nos encham o olhar de medos sem fim, há sempre algo que lhes escapa por entre os dedos, há sempre um zumbido distante que os incomoda, um ponto de luz distante que não os deixa dormir. o tempo. o tempo. o tempo. segundo a segundo, volta a volta, noite a dia.

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