Nao fomos feitos para escrever. Nem para colocar pontuacao. Tao-pouco fomos feitos para ler. Ou estudar. E, no entanto, fazemo-lo. Cada vez mais. Cada vez mais. intensamente.
Nao fomos feitos para vivermos em grandes cidades, fechados em cubiculos que decoramos com premios comprados por uma coisa a que chamamos dinheiro e que - imagine-se, nao fomos feitos para usar. Nao fomos feitos para viver vidas inteiras sem termos que colher, produzir ou apanhar os nossos proprios alimentos. Nao fomos feitos para nao termos filhos e para vivermos para nos. nos. nos.
Nao fomos feitos para mandar no mundo. Para acharmos que mandamos nele. Muito menos fomos feitos para negarmos o nosso corpo. Nao fomos feitos para vivermos num mundo virtual, numa de muitas realidades inventadas. E, no entanto, fazemo-lo. Cada vez mais. Bilioes e bilioes de pessoas.
E somos bilioes e bilioes de pessoas. Quase todos nos a fazermos mesmo muito de tudo aquilo para o qual nao fomos feitos. A fazer repetidamente todo um conjunto de coisas para as quais nao fomos feitos.
E fazemo-lo com tal empenho, e com tal cegueira, que nem nos apercebemos da enormidade de coisas que fazemos e para as quais nao fomos feitos. Se na rua vissemos uma maquina de cafe a tentar servir de autocarro, ou uma escova de dentes a tentar alcatroar uma estrada, nao hesitaríamos em ver o que estava ali mal. Ficariamos chocadissimos.
E, no entanto, quando olhamos uns para os outros, dias apos dia, achamos natural. Naturalissimo.
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