domingo, 27 de junho de 2010

Um novo mundo, um mundo re-inventado, reciclado, ou talvez apenas olhado de forma diferente

Revolucao. Escrita num papel sem a dimensao suficiente para a conter. Num teclado que nao tem as letras necessarias para a descrever. Pensada por mentes que, sozinhas, sao incapazes de a fazer acontecer. As revolucoes acontecem todos os dias. Ha quem vibre, delire, grite face ao sucesso de uma revolucao. De uma mudanca. Mas, claro, para cada grito de alegria e esperanca, ha pelo menos um sentimento de derrota e negativismo. As revolucoes humanas, por natureza - ou pelo menos as que acabam por ser bem sucedidas - acabam por nunca ser verdadeiras solucoes; sao mais uma especie de aspirina; toma-se, rapidamente nos sentimos melhor, e ate' dura um tempinho, mas no outro dia, acordamos para verificar que os sintomas ainda la estao.

Talvez o problema seja o facto de nunca estarmos contentes. Vivemos na oscilacao ridicula de ideias, adeptos ferrenhos do clube "memoria-curta" que, pelos vistos, e' campeao nacional ano apos ano apos ano. Como se o nosso mundo fosse um barco, mas fossemos demasiado estupidos para nos distribuirmos igualmente por ele e nao o desiquilibrarmos; o que acontece, no entanto, e' que na ansia de termos mais (um carro, uma casa brutal? um lcd novo?) e mais, parece que quando o barco se comeca a virar para um lado, corremos todos para o outro, e de tal forma que passado pouco tempo ja' o barco se comeca a desiquilibrar para esse mesmo lado: hey, e' tempo de correr novamente para o outro lado. Nao deixa de ser um espectaculo com bastante potencial, mais do que nao seja para um Big Brother reles numa estacao extraterrestre.

No entanto, ainda que a maior parte dos "desiquilibrios" da nossa sociedade sejam um resultado directo do nosso proprio desiquilibrio, nao parece ser facil encontrar uma solucao para nos equilibrarmos. E volta-se a gritar revolucao. E a criticar. Afinal, hoje em dia todos gritam opinioes e coisas, e dizem coisas sobre coisas que, aparentemente, na cabeca de quem as escreve, ate' faz sentido (ainda que sejam alta e extremamente dolorosas de ler/ouvir/ver). E' absolutamente extraordinario o estado em que tantas cabecas estao, ao ponto de serem os seres mais cegos, pessimistas e, va la, ridiculamente ilogicos do mundo. Talvez seja culpa da sociedade, do acumular de frustracoes, do facto de nem toda a gente poder ter um lcd de 5 metros (mas o de 2 metros e' sagrado, nem que nao se coma para o resto do ano!), ou de nao se poder ser doutor, ou engenheiro, ou presidente da republica ou, sobretudo, por nao se poder ter la uma coisa chamada emprego que e' so dizer que se tem, receber o dinheirinho ali no banquinho e ir beber ali a bela da cervejinha.

Revolucao? Nao, a "coisa" nao vai la com nenhuma revolucao. A "coisa" nao vai la com mais caos, com mais destruicao. Afinal, o que e' que ha' para destruir que nao fosse logo construido novamente a partir do dia seguinte? Uma mudanca, a serio, digna do nome, que realmente leve a algo melhor, nao pode ser apenas como um produto de super-mercado caro: com uma embalagem fantastica e bonita, mas que, la dentro, nao tem mesmo nada de jeito.

sábado, 26 de junho de 2010

Quando as palavras saem à rua

É quando anoitece que as palavras saem à rua. Quando as ruas são conquistadas por um silêncio vazio, e não mais são um palco agitado do circo da vida, as histórias e as personagens feitas de palavras ganham vida. Timidamente, saem de casa, e dão um passo. E outro, e mais outro. Até que, no pico da noite mais escura e mais profunda, o silêncio completo que ouvimos lá fora, é a maior ilusão - feita da ilusão de palavras. As palavras, que são os corpos de princesas e príncipes, e homens e mulheres e seres e cidades que nunca foram, escrevem silêncio, silêncio, noite. E nós, cegos, absorvemo-las e temos a certeza de que tudo o que há lá fora é silêncio, e noite. Ou então nem sabemos que lá fora há silêncio e noite, porque estamos já longe, bem longe dentro de nós, a sonhar com um mundo que não este, em sonhos e sonhos e sonhos sem fim.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Um milhão de histórias mais uma

Um dia vou escrever um milhão de histórias. Encostar-me ao tronco de uma árvore no meio da floresta, e transformar os raios de luz que pintam o espaço por entre as folhas verdes de Verão em personagens e frases e vidas. Um dia vou correr pelo mundo do faz-de-conta, e escrever histórias sobre outros mundos, com outras pessoas, com outras ideias. Histórias do que podia ser e talvez seja; mas não aqui nem agora. Contos do que o futuro talvez trouxesse, fábulas daquilo que poderia ter sido. Um dia vou sentar-me perto de um rio e escrever as lágrimas que nele correm; pintar a alegria e a tristeza; abraçar a noite para me perder na angústia do medo e morte de alguém que partiu, e sorrir em lágrimas com o pôr-do-sol de um nascimento ou regresso. Um dia vou poder sorrir a todas as minhas personagens, mesmo as que nunca existiram; mesmo as que nunca me sorriram de volta; mesmo as que acham que sou um escritor cruel. Um dia vou correr pelas palavras e não precisar de mais nada. Esquecer o corpo e o mundo que grita lá fora; colocar de parte a angústia e a ânsia de ter que chegar ao céu e respirar o azul do céu das frases feitas das palavras. Das palavras que vão construir todas as histórias, um milhão de histórias diferentes. E, no final, depois de velho e cansado, vou escrever mais uma. Antes de partir.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - VII

A última página, o último texto. O sabor do detalhe das formas e formasa caminhar para o seu fim. A indecisão e o paradoxo. Quando a vida se esgota queremos vivê-la toda. Até à última gota, cheiro, forma, vocábulo. Quando a vida se esgota vem a morte. E a morte é como nos livros do JLP. Diz-se morte e é triste. e não há volta a dar. E agora que escrevo o último texto, no último papel, sinto como nunca a inevitabilidade da morte, da vida e de todas as outras coisas; não como bem e mal, fim e princípio, mas como um pensamento que se aproxima, ao longe, e fica cada vez mais perto, tão perto que chegamos a acreditar que o vamos conseguir atingir, perto mais perto até o tocar e sentir. Mas o papel acaba sempre quando menos se .

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - VI

Há um mundo ali à frente
Sonhado. Meio colorido.
Já ali à frente.
Confuso.
Diferente.
(E o que fica para trás?)
Coragem!
(E o que tenho na mão?)
Apenas ilusão.
Porquê?
É já ali.
Felicidade.

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - V

As palavras nunca partem. Não verdadeiramente. Podem viver num silêncio térrio e profundo durante anos e anos, fechados à chave na caixa escondida dentro de nós. Mas as palavras, ao contrário de nós, não desesperam, não se inquietam, não se revoltam. Talvez por isso pouco ou nada envelheçam. As palavras. As palavras. A vida nelas.

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - IV

Para onde fogem as palavras
quando as tentamos abraçar
nas tinta e sóis
que adoramos?
Onde se escondem as
ideias de luz e cor quando as
dizemos assim, num abrir de
olhos, ao mundo inteiro,
e de repente já nem fazem
qualquer sentido?
Onde se refugia o
sentido de todas as coisas quando
o queremos apertar forte?

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - III

Longe de nós não há eu
que nos prenda e escravize
não há lua nem fogo
ânsia ou desejo.

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - II

A felicidade fuma liberdade em overdoses nucleares. Os sorriros são muito mais humanos, por seu lado, com pequenos-almoços ricos em hiprocrisia. Mas a felicidade não. A felicidade não se controla nem se chama. A felicidade tem mau feitio. E às vezes nunca sai de casa. Dias e semanas e meses e anos. Às vezes para sempre. E, ainda assim, quando aparece, seja o que for que tenha feito antes, a felicidade é como o regresso do filho pródigo que não precisa de o ser para ser amado.

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - I

O sonhos são esta coisa estranha a que cheiram as minhas palavras. Os sonhos são os sabores - requintados ou não - dos meus pensamentos, a textura da pele da música que toco quando te abraço a mão. Os sonhos são a luz com que escrevemos as memórias que nos tornam reais e nos fazem sermos nós. Os sonhos, os sonhos são todos esses pedaços de sonhos que nos sonham sonhando connosco. Os pedaços de confusão sem nada que não podemos possuir ou controlar.

Os sonhos são, por isso, o que há de mais genuíno na humanidade.

Um dia

Um dia o mundo vai poder parar. Fechar os olhos por um momento para escutar o rio que corre dentro de nós. Sentir-lhe a frescura, o som, o toque. Um dia vamos poder respirar, só nós connosco todos juntos mas sem eles para nos dizerem o que fazer; inspirar fundo e sabermos que a vida está nas nossas mãos, que existe um continente inteiro para plantarmos todos os nossos sonhos, e um oceano sem fim para os navegar. E se a terra e o mar não chegarem, então teremos tempo para olhar o céu, e em todos os sóis sermos capazes de ver a mesma vida que a terra viu em nós um dia, e em cada ponto de luz sabermos que o somos. Um dia, o universo inteiro vai poder parar para poder viver. Deixar um instante passar sem que o relógio se aperceba; um segundo, um minuto, uma vida inteira num momento - como se não existisse na escuridão do vácuo, mas o necessário, o fulcral, o fundamental para podermos olhar-nos nos olhos, e podermos voltar a estar vivos.

Nós e o Mundo

O mundo é um lugar enorme. Um organismo estranho, um ser que respira sem um ritmo certo, que se alimenta de uma forma quase totalmente aleatória, e que, um dia, talvez - quem sabe - se reproduzirá. O mundo é o lugar onde existimos. Onde nascemos, onde aprendemos a sorrir, onde nos ensinam a chorar, e onde partimos. Esta Terra é o nosso oceano, azul para sonhar, terra para nos prender - e lá em cima, um céu imenso.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Passado - há 7 anos atrás, no DN Jovem





Quando era criança o mundo era tão diferente.
Quando era pequeno o mundo era grande
e eu falava com ele.
As estrelas eram as minhas melhores amigas
e as árvores as minhas confidentes.

Quando era pequeno havia histórias de encantar
que me faziam sorrir
antes de adormecer
e que me faziam sonhar com princesas e reinos distantes.

Mas tudo isso foi há tanto tempo.
Cresci, e o mundo ficou mais pequeno.
E a cada centímetro que crescia parecia que morria
uma princesa e parecia que desaparecia um reino
e parecia que havia menos uma história de encantar
e parecia que já não havia estrelas e já não havia árvores.

Só assim se explica este mundo minúsculo
no qual vivo eu e tu e todos
em que lá fora não há estrelas
e em que dentro de mim
todas as histórias de encantar
estão como os sorrisos

- mortos.

David Sobral, DN Jovem, 2003

A Árvore da Poesia

Gastaram-se as palavras para te definir
(a árvore da poesia secou)
talvez até restem alguns frutos
que heroicamente tenham sobrevivido
à queda de ramos que já não existem

porém já nem importam as sementes
(a árvore da poesia secou)
mesmo que uma outra germinasse
de restos de palavras
já não seria poesia.

Seria talvez a natureza
ou o céu - até o luar -
mas não, nunca a poesia,
essa morreu
partiu
secou
jamais voltará.

Gastaram-se as palavras para te definir
e por isso o silêncio
por isso o céu gelado e a noite eterna.

Gastaram-se as palavras para te descrever
e ainda assim
continuas a ser

um fogo de estrelas e de mar.

Poemas

foste sol e voaste pelo mundo
companheira da brisa e do luar
dissolveste-te no aroma de despertar pela manhã
e no oceano azul ondulaste as águas
com o teu corpo de suspiros contidos.
e deste a volta ao mundo inteiro
num sonho que era teu e das estrelas
e no final
cansada
para mais nada tiveste forças
senão para perguntar
- quem sou eu por detrás das palavras com que me escrevem?

David Sobral, 27/05/2005

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O futuro chegou ontem


Às vezes as palavras perdem o seu merecido lugar na nossa vida. As palavras, e as pausas, e os momentos, e tantas outras coisas. Tantas outras coisas para as quais declaramos abertamente que não temos tempo, ainda que, no mais profundo do nosso ser, essas sejam exactamente as coisas que mais nos fazem sentir realizados, felizes. Há um tic-tac lá fora que nos invade a mente, que nos hipnotiza totalmente, que nos incita a fazer parte da nascente, do rio, da foz, do mar. E não importa por que paisagens passámos, pois o tempo urge que independentemente dos caminhos e da foz - ou até do destino com que um dia sonhámos - no final, todos nós acabamos num mesmo oceano, perdidos numa imensidão que não só não compreendemos, mas que sobretudo nos faz sentir profundamente sós. A mais terrível de todas as solidões que alguma vez se poderia imaginar: o estar só no meio de milhares de milhões de pessoas sós. O futuro chegou ontem, e estamos sempre todos tão atrasados para o receber...

domingo, 18 de outubro de 2009

Retorno e Paz

Naquela manhã de Outono em que Joaquim voltou ao mundo que fora o seu Mundo durante quase 20 anos, era como se nada tivesse mudado. Havia ainda o sol a brilhar, o céu azul, o ar limpo e verde a soprar por entre os montes e planícies que se estendiam até ao infinito abraçado pelo seu olhar. Memórias e momentos passados; estava tudo ali, quase parado no tempo, na paz e tranquilidade da brisa que lhe tocava o rosto e lhe afagava os cabelos. Mas Joaquim não era o mesmo rapaz que por ali havia crescido, corrido, caído, sonhado e partido. A vida levara-o a correr o mundo, a chegar mais longe, a descobrir locais com os quais nunca havia sonhado. Os seus sonhos levaram-no para tão longe que, durante anos, foi como se tudo aquilo que Joaquim via, ouvia, sentia e cheirava de novo não fossem mais do que uma memória distante, ou um sonho de uma vida que nunca viveu. E tudo isso rebentava agora em ondas irregulares num oceano agitado de memórias, ora felizes ora de lágrimas. Até porque se os caminhos baldios que atravessavam a serra o lembravam dos risos e brincadeiras que o haviam entretido - a ele e aos seus primeiros amigos -, a porta da casa onde crescera sabia-lhe ainda à dor que havia carregado desde o dia em que vira os seus pais pela última vez, acenando-lhes um adeus que lhe soube como um até já, mas que acabou por ser um adeus para sempre. Isto porque quatro meses depois dessa despedida, a estrada que os havia conduzido até à cidade que visitavam pelo menos uma vez por semana durante décadas levou-os para um novo destino do qual nunca mais voltaram. Joaquim ficou de tal forma perturbado com a notícia que não mais voltara à casa que, desde esse dia, passara a ser sua. Afinal, como podia ele aceitar a morte dos seus pais que tinham ainda tanto para viver? Como podia ele voltar e não ouvir os passos da mãe pela casa, sempre atarefada; tornar a pisar os caminhos que percorrera com os seus pais e não os ouvir a dizer para caminhar mais devagar; ou cheirar as flores e as plantas e não ouvir as explicações e lições do seu pai:? Não, Joaquim não tinha como enfrentar essa realidade que se abatera sobre a sua vida: o peso era demasiado, a dor profunda demais, cortante.
A verdade é que foram precisos 11 anos para Joaquim voltar ao mundo que o fez crescer e sorrir, ao Universo a que, no mais genuíno do seu ser, ele chamava casa. E, ainda assim, Joaquim sabia que a sua casa já não existia - ou pelo menos a casa do rapaz que os campos viram partir havia 11 anos - essa ruíra no dia em que se tornou órfão. E, ainda assim, havia algo de seu ali. Algo que o fazia sentir o calor do sol de Outubro como um toque do destino, substância invisível que lhe sussurrar as palavras doces que uma mãe canta ao seu filho para o adormecer seguro e confiante. O mundo havia-lhe mostrado visões, sensações, locais e pessoas absolutamente fantásticos e inesquecíveis - e, ainda assim, nada nem ninguém lhe podia tocar tanto quanto este local. Talvez porque cada detalhe, ainda que envelhecido, deteriorado ou desenvolvido, tinha o toque do seu pai e da sua mãe, e dos seus pais antes deles; mais do que isso, cada pedaço do que agora o rodeara cheirava aos seus sonhos de miúdo, a tudo aquilo que o fizera sorrir só de pensar. Cada árvore de fruto, cada flor, cada caminho por entre as ervas que agora cresciam como nunca - em cada detalhe havia uma memória, uma palavra, um gesto. Sim, o mundo lá fora deu a Joaquim as folhas de uma árvore adulta, e a oportunidade de criar um tronco forte o suficiente para finalmente conseguir enfrentar tudo aquilo que a vida lhe tirou; mas era ali, naquele pedaço de terra em que pouco mais se ouvia para além de um silêncio profundo, que Joaquim tinha as suas raízes, o seu solo, a sua água.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Mas qual crise!?

Há dias em que apetece escrever. Em que a voz do mundo nos chega de uma forma tão impossivelmente ridícula, suja, corrupta e sem nexo que nos força a optar. Entre seguir a corrente ou opormo-nos a ela. Entre aceitar uma visão ridícula do mundo, ou ter a coragem e o discernimento de o olhar a sério, de todos os ângulos, com todas as cores. É de facto incompreensível constatar que, num mundo da suposta informação, numa sociedade que se supõe do conhecimento, e, sobretudo, num planeta com uma população humana tão elevada, são tantos, mas tantos!, aqueles que não fazem a menor ideia do que estão a fazer, do que são, do que são os “problemas” e o que podem vir a ser soluções.

Escrevam-me o poema do mundo actual e qualquer um saberá que o difícil será poetizar toda a temática da crise financeira, dos mercados financeiros, da banca, dos bancos, dos bancos a falir, do dinheiro, do dinheiro que não chega, dos biliões que já só são 40 biliões quando ontem eram 80 biliões, ainda que nem interesse a moeda ou a nota, porque no fim de contas eram só contas e projecções, as mesmas feitas pelos investidores e outros ladrões. Há que não esquecer petróleo e tudo o que daí vem ou devém, mas, claro, mesmo aí, há o lucro, essa tão fundamental lei da física que diz que o preço de consumo é sempre superior ao de produção pelo menos por um factor suficiente para com ele se comprar mil e uma coisas que não precisamos e que por isso são tão dispendiosas. Escrevam o poema do mundo actual e temos fartura de tiros e bombas, de atentados e mortes, de desgraças e catástrofes. Fartura de imprensa social, claro (pois oh meu deus, o mundo sem imprensa social é o maior pesadelo de qualquer terrorista e político mal intencionado - manda todos esses para o desemprego sem qualquer hipótese de sobrevivência no ramo!), mas, oh, como viveríamos nós sem o jovem de 14 anos que foi ontem baleado pelo filho de 3 a ser notícia de abertura e primeira página de todos os jornais? E sem o político lambido que garante que não existe outra opção para isto ou aquilo, que a crise é grave - ou, até, para ouvir os nossos maiores líderes referirem-se ao actual estado do país como de uma profunda desgraça, como se o tempo em que vivemos não fosse o melhor de sempre!

E é exactamente aí que o poema acabaria. No que a maioria interpretaria como ironia e crítica social, estaria a verdade: é a crise, é a crise, mas nunca estivemos melhor do que isto! Mas claro, quem pensa assim? Afinal, “no meu tempo é que era”, e isso, juntamente com o encher de peito que são os descobrimentos e a pseudo-grandeza de império passado, fazem sempre (quase) pensar que Portugal foi em tempos um país fantástico, sem fome, sem pobres, justo, onde tudo funciona fantasticamente: um exemplo para o mundo, até para a galáxia inteiro, o Universo!

O que dava mesmo mesmo jeito era saber fazer contas, perceber que quem manda no mundo e no seu destino somos nós - cada um de nós. E quem quiser queixar-se disto ou daquilo e depois passar os dias a ver televisão, beber cerveja, ou fumar todo o tabaco do mundo, sem sequer um esforço sincero que o faça - mas que pelo menos não fira os outros que se esforçam, que trabalham, que alcançam, que não desistem. Porque se ferem esses, então, meus amigos, aí é que temos a crise, mas nem importa a crise financeira ou económica, aí temos a crise real, a que importa - a crise que transforma a humanidade na raça mais estúpida do mundo.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

A Vampira Vegetariana

Lea descobriu desde cedo que não era uma criança como todas as outras. Os pais sempre lhe disseram que ela era especial. Como eles. Porém, ela nunca compreendeu verdadeiramente a extensão de tal conceito. Afinal, os seus pais pareciam ser do género “demasiado protector”, e raramente a deixavam sair de casa. Culpavam o sol. Porque aumentava o risco de cancro, e porque era perigoso. Assim, Lea nunca tinha grande oportunidade de conhecer outras crianças, de brincar com elas, de saber do que gostavam, e como eram os seus pais. Talvez assim - pensava - seria mais fácil perceber por que razão ela era tão especial. Ou talvez nem sequer fosse. No fim de contas, talvez os seus pais lhe dissessem isso para que se sentisse melhor. Para se sentir realmente especial, quando, no fundo, ela talvez fosse tão especial como qualquer outra criança no mundo.
Afinal, o que havia de diferente na sua vida? Os seus pais trabalhavam bastante, e sobretudo de noite, mas de certo eram empregos fantásticos, porque em casa nunca faltava comida, e da mais deliciosa. De facto, a sopa era sempre tão fresca, e sabia sempre tão bem, embora nunca tivesse visto os seus pais a fazê-la. De qualquer forma, tinha que ser confeccionada por um chéf verdadeiramente fantástico, provavelmente um conhecido do emprego dos pais. Por outro lado, a sua família não era religiosa. Mas isso talvez fosse normal na sociedade moderna. Afinal, e tal como lhe diziam os pais, como é que se pode acreditar em deus, bem ou mal, quando existe a Ciência para mostrar a verdade, e quando as descobertas que se têm feito acerca do mundo não necessitam da existência de deus para as explicar.
Quando Lea completou 12 anos, os pais fizeram questão de a levar a visitar o local de trabalho. Afinal, parecia que queriam que ela continuasse o negócio de família quando crescesse. E, no fim de contas, por que não? Ver não magoava, e estava tão farta de ver os mesmos sítios todos os dias, que até visitar o emprego dos pais lhe parecia o melhor dos presentes de aniversário.
Saíram pouco depois do pôr-do-sol, no carro do pai. Roupas negras - de certo tratava-se da política da empresa em que trabalhavam. De qualquer forma, Lea estava demasiado curiosa para conter todas as perguntas que lhe brotavam na mente.
- Como é o vosso trabalho?
- Algo que começarás a fazer connosco em breve filha.
- Mas o que fazem.
- Trabalhamos bastante para conseguirmos a melhor comida para os três.
- Sim, a comida é sempre fantástica. É um amigo vosso que a faz?
- Que a faz?
- Sim, a sopa deliciosa que trazem sempre para casa depois do emprego. Nunca sabe exactamente ao mesmo, o que é óptimo porque nunca enjoamos, mas parece ter uma consistência fantástica. De certo trata-se da obra de um dos melhores cozinheiros da cidade.
- Bem, filhota, já começas a ser crescidinha. Está na altura de começares a compreender.
- Sim, digam.
- Não é sopa, filha.
- Não é sopa? Créme?
- Também não.
- Oh, então é um cozinheiro ainda mais sofisticado! De que país é?
- Não há nenhum cozinheiro, filhota. É sangue. Sangue humano.
- Como?
- Sim filha. Pensámos que pudesses descobrir por ti própria. Como eu ou o teu pai descobrimos. Mas talvez em nós o desejo de sangue era demasiado grande, e por isso os nossos pais tiveram que nos treinar bem mais cedo do que tu. Eu comecei ainda mais cedo do que o teu pai. E foi na caça que nos conhecemos. Antes de nasceres.
- Mas então nós...
- Somos vampiros filha, sim. Sempre te dissemos que éramos especiais. Mesmo muito. Por isso não te deixamos sair de dia, por isso nada de crucifixos, ou alho. Por isso o sangue.
- E o vosso trabalho é...
- Caça. Caçamos pessoas, e depois bebemos o sangue deles, ou então drenamos para levar para ti, ou para matar a fome durante o dia.
- Não acredito!
- Calma filhota.
- Calma, como posso ter calma?
- Talvez seja melhor voltarmos para casa?
- Sim, quero voltar para casa, e já!
Lea voltou para casa com os seus pais, e, assim que lá chegaram, correu de imediato para o seu quarto, e fechou a porta atrás de si. Como podia ela ser um vampiro? Matar pessoas para beber o seu sangue? Haveria algo mais horrível do que isso? Não, ela refusava-se a matar pessoas, nem que para isso tivesse que morrer ela mesmo.
- Lea, estás bem? Acalma-te, tens de tentar aceitar o que tu és. Nada te pode mudar.
- Deixei-me em paz! Odeio-vos. São os piores pais do mundo!
Lea passou 2 dias sem sair do seu quarto, ignorando todos os apelos dos seus pais, e por vezes vendo televisão. Até que, ao fim desse tempo, e com o estômago literalmente a dar horas, começou a passar um programa sobre vegetarianismo. Sobre a forma como era mais do que possível substituir toda a carne e peixe somente por vegetais. Era até mais saudável. Se ao menos ela fosse uma rapariga normal, então seria vegetariana. Matar humanos era horrível, mas não o era também matar um animal e comer a sua carne? Só o pensamento causava-lhe arrepios (mais do que o facto de ter bebido sangue de humanos ao longo de toda a sua vida).
Todavia, ao terceiro dia, Lea não conseguiu aguentar a fome que lhe corria no corpo. Precisava de sangue, de comida. Mais: precisava de uma caçada. Os seus pais estavam certos: tinha que aceitar quem era. Assim Lea saiu do quarto, sorridente, e, sem os seus pais saberem, saiu de casa. Para a sua primeira caçada.

Livres

É preciso prendermo-nos para podermos voar
palavra por palavra para nos podermos calar
num silêncio de gritos sem fim
num sonho de mundos reais sem sentido.
É preciso morrermos para podermos viver.

Grito da noite

É no grito da noite que o silêncio rebenta
em todas as suas cores
de luz e escuridão
é nele que as vozes se soltam enfim
sem medo
para se tornarem papel e tinta
na mente de quem sonha e vê
no céu de quem sabe que o mundo
não é o mundo
mas um mar inteiro
de si mesmo
um mar tão extenso e verdadeiro
que nem tão-pouco sabe
que o é.

Sem rumo

Sem norte nem espaço, nem tempo nem consciência
apenas o palpitar de um violino
o oscilar de uma corda
- talvez o grito de um piano
e uma brisa de uma voz profunda
de um poema sem dono
de uma praia sem gente.
Sem destino, sem rumo.
Sem início ou fim.
Na palavra nascemos
e no poema havemos de ter fim.

Sorriso

Na memória erguem-se cidades sem fim
muros de lágrimas e areia
que um dia construiste no meu olhar
como um sorriso que nos envolve num momento
e nos acompanha para sempre.

Anúncio

No céu um horizonte
na brisa um anúncio.
Fogos de guerras por travar
num frio de branco de papel por escrever.

Chama

Às vezes no calor do sol sobre o gelo nos vales
ou na brisa de neve que cai sobre os ombros
há uma onda distante que chama
- sussurra -
como uma chama tímida que quase não aquece
mas ilumina.
Uma estrela no horizonte por achar
arco-íris distante
inalcansável
como um beijo que o tempo não apaga
ou um sorriso que a distância não cura.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Voar

Abraçar as mãos em asas
e voar

Como se os nossos dedos
unidos
fossem o poder do poema
como se as linhas
do nosso destino
fossem a magia de versos de luz

Abraçar as mãos em asas
e voar
pelos céus que criamos a cada toque
a cada carinho
num mundo só nosso.

Abraçar os nossos corpos em asas

e voar.

Matematicopoesia

Às vezes a noite traz uma inoportuna função
matemática que indesejadamente transforma
o isolamento em solidão. E talvez o mais triste
seja derivá-la e verificar que f linha, após f linha,
tudo o que se obtém são conjuntos vazios de lágrimas
que a matemática parece não compreender.

sábado, 5 de janeiro de 2008

A Humanidade em Três Mundos - Fast-food II

O mundo está hoje a mudar. De forma extraordinariamente rápida. Mesmo que os ditadores de gema se esforcem por reforçar o terrorismo e os conflitos que parecem rebentar por todo o lado, é nesse mesmo mundo que está a brotar a semente da verdadeira mudança. Com o conhecimento a estar acessível a cada vez mais, e sobretudo com o debate de ideias através da internet - e das comunidades formadas - são cada vez mais aqueles que estão a conseguir encontrar o que se pode considerar “o seu próprio caminho”. É verdade que a sociedade os condena e repreende, sempre que se mostram à luz do dia. Por vezes abandonam o caminho que haviam começado, unicamente para voltarem a sentir-se “parte” da comunidade. Mas esses, tal como muitos dos outros, sabem perfeitamente que um dos maiores problemas da sociedade, e uma das principais razões de tantos conflitos e problemas prende-se com o imenso sentimento de perda, de desorientação e de bases para viver.
Aqueles que sempre viveram o mundo seguindo à risca todas as regras e dogmas, e que os aceitaram como verdades profundas, matando a sua própria curiosidade, agindo com base neles e não no seu verdadeiro julgamento ou experiência estendida e não centrada em si mesmo ou na sua própria sociedade - esses são aqueles que ainda se mostram mais estáveis. Senhores de si. Afinal, estão em casa.
Por outro lado, talvez a maioria, neste momento - no mundo “ocidental” - não seja assim. Nascidos sobretudo a partir da geração anterior, os filhos dos dogmas tiveram a oportunidade de olhar o mundo, e ver um pouco mais longe, mas foram desde logo obrigados a fechá-los, e a seguir as regras da sua sociedade, dos seus pais, da sua família, da sua igreja, da sua crença. Mesmo quando perceberam que não faziam qualquer sentido. Para esses, o mundo normalmente não faz qualquer sentido. Consequentemente, as celebrações, as rotinas, o trabalho, tudo se resumo a algo quase completamente forçado, ensaiado - quase pura representação. E existe um limite, que muitos atingem. Depressão, suicídio, isolamento.
Outros, sob pressão, passam para um outro grupo. Um terceiro. Talvez fruto sobretudo da última geração, mas também da primeira: os que olharam longe, foram obrigados a fechar os olhos, mas voltaram a abri-los. Um conjunto de pessoas que, a uma dada altura das suas vidas teve a coragem necessária para saltar o muro, para navegar para um outro continente, para descobrir a lua e outros planetas, para ver para além da nossa perspectiva. Pessoas que, mesmo que acabem por agir tal como as primeiras, segundo determinadas regras, princípios ou crenças, foram capazes de as escolher com base em vivências e experiências diversas. Muitas, porém, vão longe de mais, e são de tal forma rejeitadas pela sociedade que acabam como as do segundo grupo. De qualquer forma, são capazes de pelo menos conseguir esboçar um caminho, definido por eles próprios, onde cada erro, cada decisão, cada viagem são tesouros que não se pode abdicar nunca. Para eles, o arrependimento é o sentimento de quem tem medo de olhar para fora de si mesmo e descobrir o mundo, e arrependem-se apenas do que não fizeram.
E hoje, num mundo ditatorial, onde parece que a grande maioria dos seus habitantes parece pertencer ao grupo dos filhos de gado com olhos de artistas cegos na infância, que futuro podemos esperar?

Ditaduras, Fast-Food e Humanidade

Não escolhemos o momento em que nascemos. Tão-pouco o dia em que finalmente nos olhamos ao espelho e sabemos que a imagem que vemos nos pertence. Que somos quem somos e não quem pensamos que somos. Porém, muitos - senão a maioria - nunca nascerão. Fruto da sociedade, talvez. Da forma como se organiza. Uma necessidade, dirão muitos.
A verdade é que as regras, as crenças, os dogmas e o “bem” são conceitos extremamente úteis numa sociedade primitiva. Formas fantásticas de manter a ordem. Afinal, por que razão se alimentaram ditadores a ouro e prata ao longo da história da humanidade? A humanidade funciona tão facilmente quando não precisa de se olhar ao espelho, quando é simplesmente pastada, quando alguém lhe diz o que fazer, para onde ir, e por que motivo dar a sua vida.
Ao longo da história, a religião também assumiu um dos principais lugares nessa tarefa. Escravizar para dar um propósito e assim dar a sensação de pertença e felicidade, ao mesmo tempo que mantinha sociedades coesas. Mas a um preço. Ditaduras, regras e a lógica do rebanho são uma combinação barata e eficaz, do tipo fast-food. Porém, tal como em qualquer solução milagrosa, existem efeitos secundários. Guerras, conflitos, e toda uma parte da sociedade que simplesmente não consegue seguir a onda, o movimento comum. Revolucionários, perdidos, maus, hereges. Chamem-lhes o que quiserem. O que importa é que a lógica do deus pátria e família simplesmente não resulta com eles. Muitos tentam. Convencem-se a si mesmos de que sim, que se trata do melhor caminho. Mas a vida mostra-lhes que não.
Mas haverá uma outra forma? No fim de contas (dizem-nos sobretudo os apoiantes desta tradicional receita para governar o mundo), sempre que se tentou chegar mais longe, os fracassos foram totais. Regimes que começaram com a utópica filosofia comunista acabaram apenas por ser ditaduras com diferentes ingredientes. E sempre que se tentou conceder um pouco mais de liberdade, a maioria sentiu-se perdida. Sem rumo. E foi o caos.
Todavia, não será tudo isso fruto dos milhares de anos de regras ad-hoc, de dogmas sobre deuses e milagreiros que porventura não fazem qualquer sentido, e de homens com sede de poder que apenas pretendiam encontrar formas de dominar os próximos para atingir o seu lugar ao sol?

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Espírito Tuga

País das maravilhas caídas do céu e dos grandes milagres que juntam mais pessoas do que muitas causas humanitárias. O lugar do negócio fácil e altamente lucrativo. Falcatruas, pequenos “desvios” de dinheiro, e ilegalidades e “pequenas” mentiras em praticamente todos os sectores da sociedade. O país do faz de conta. Carros topo-de-gama e casa própria, lado a lado com um saldo negativo que nem uma vida inteira de trabalho pode conseguir liquidar. Haverá outro senão Portugal? Bem, talvez sim, mas pelo menos Portugal, esse grande país de descobridores e da conquista do desconhecido é, de certo, um dos mais proeminentes.
Porém, ainda mais significativo é o discurso político. Tão próprio, tão característico. Tão nosso! O fado sem guitarra portuguesa, um mundo de lamentações e de sonhos heróicos de tempos que já lá vão (ou nunca foram). Um sebastianismo traçado com a crueldade da palavra saudade. Uma ambição que cresce na voz, mas que apenas se mantém nas gravações e em repetições televisivas.
E é neste mesmo país, em que todos se queixam de crises e crises; de faltas que qualificações espalhadas por toda a sociedade; neste pedaço de terra onde todos se queixam de inércia governamental (embora essa seja talvez a menor), e onde todos pedem mais dinâmica, dinamismo, maturidade - é neste mesmo país que pede jovens com essas características, que os forçamos a serem exactamente o contrário. Que os pais obrigam os filhos a concentrarem-se apenas na escola. A serem “doutores” porque isso lhes dará um estatuto mais elevado, e não porque os tornará mais conhecedores de si mesmos e do mundo à sua volta.

“É hora!”, dizia pessoa, a rematar a mensagem. Mas Portugal continua surdo.

domingo, 14 de janeiro de 2007

What really drives us?

Life is a strange place where there’s little chance to find ourselves, or something that completely suits us. But yet we go on. Day by day. Month by month. Year by year. Always chasing something, fighting for it. And sometimes we are so concerned about our purposes that we even forget what made them so important to us in the first place. On the other hand, life can be hard, as hard as anything can be. And when that happens, few can resist - so we often chose the easiest way: giving up.
In some sense, life has everything to do with Science. Well, not with “Science” as a “theoretical” or “philosophical” entity, but with the “real” Science. The human Science. The only Science that we know. But why is that? Well, to begin with, Science is “made” by humans, so all the cultural, religious, or even “artistic” background is “always” present in any research. Secondly, Science - unfortunately - is often driven more by unconscious human “emotions” than it is by the more fundamental thing - which is the search for the unanswered questions. This may well be controversial, but truth is also classified that way.
So what’s the purpose around all this thing? Simply to state that even Science - which was suppose to be “above” the every-day world, in the sense that is should respect a couple of “higher” principles - is as human as it could be. And that has a huge importance. Mainly because it implies that the knowledge never evolves as it “should be”. Therefore, we can get periods of time where there’s no more that controversy and argues between the science community - just to know “who” do this or that - and others where single individuals, or even big teams, can show us a better picture of a particular part of the world. In the meantime, new ideas are always being created, but they are often destroyed almost before they are really born. What does this mean? It means that they are neglected before being tested with a real experiment - just because they contradict the knowledge that we accept as absolutely correct. And this gets even “truer” when we get to the fundamental research, something that has so much math and imagination, that often forgets that Science is about the world, not about Maths, Complexity and “mathematical beauty”.
Science has everything to do with life. That’s why it is so interesting, and yet - sometimes - so boring. That’s why it is often driven - in the first place - by a stupid or crazy idea, or even by an unexpected error. And that’s the reason why in Science, as much as in the ordinary life, we need revolutionaries - people that are among the field but are not afraid to raise their voices, and to say what the others simply don’t want to hear. Making them see that we cannot get passionate about the ideas that worked in the past, even when they look so “nice” and “beautiful”. Because if we do that, we will get lost from the real path that can give us the answers about the real world. Answers that we have been looking almost since we became human. And the answers about the real world are not the ones that our mind is expecting!
In the end, it doesn’t matter if those revolutionary men or women “achieve” something in life, in the ordinary meaning of it - because just for defying the system in which they are, exposing its problems and malfunctions, all of these people - along the human history - are real heroes. Some are considered eccentrics, others are seen as the materialization of the word arrogance, and others are hope and religious symbols. But they should all be considered as the engines of human progress and evolution.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Blogo

Visitem http://pwp.netcabo.pt/d.sobral ou www.words.web.pt para novos posts e textos deste blog :)

terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Santiago de Chile



E acabou-se a conferência em Santiago, no Chile. A 4th Advanced Chilean School of Astrophysics: "Interferometry in the Epoch of ALMA and VLTI". Foram 7 dias memoráveis, que começaram com uma mala que ficou em Madrid e acabaram com videos e fotografias pseudo-artísticas de Lisboa, vista do ar. Pelo caminho ficou o caos tão barulhento mas ao mesmo tempo único de toda a cidade, o metro com pneus de "última tecnologia" (lol), a estação de Santa Luzia, com a decoração doada pelo Metro de Lisboa, os muitos e muitas sul americanos porreiros e que até percebiam português. O pior foi mesmo a estranha noção de "distância" dos chilenos e chilenas, sobretudo com as palavras "perto" ou "rápido" :P. Mas distâncias à parte, ainda deu para ver o céu do hemisfério sul e tudo, a cerca de um quilómetro e meio de altura, com um telescópio nada mau (cerca de 50 cm de abertura, ou seja, um belo monstrinho amador).



Para já ficam algumas das melhores fotos :)

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Olhar




Há um olhar que persegue
que fascina
que prende.
Um olhar que brilha
que sopra
que agita a vida e o mundo
e que o faz girar
numa magia inigualável.

Um olhar que ondula no mar
que se espelha no céu
e que tinge o céu de safira
com a luz dos sonhos.

Um olhar, enfim
que é a vida.

Para trás




Tudo o que era ficou para trás quando parti. Todos os sonhos, as ambições – e até os pesadelos. Deixei os medos com a mesma naturalidade com que abandonei o amor dos contos de fadas, e matei as memórias felizes com a mesma crueza com que lidei com as mais horripilantes. Despi-me de mim mesmo. Cortei os membros, o peito. Retirei o meu próprio coração. Fiz-me e desfiz-me em pedaços. E, por isso, quando parti, não restava nada de mim. E tudo ficou para trás. Para sempre.

Prosa

Há quantos séculos não falamos, poema?
Há tantos, que provavelmente até tu
te deixaste cair
na inércia de seres
prosa.
Apenas prosa.
Para sempre prosa.

Escrevo

Escrevo, sim. Ou talvez. Já nem importa. Escrevo apenas, mesmo sem saber se o faço, ou por que o faço. Por mim? Por ti? Por ela? Por ele? Ou por quem mais? Talvez por nada. Sim, escrevo por nada, mas nem sequer penso demasiado nisso, para não o concretizar, para me manter no nada. Do nada para o nada não é preciso movimento, translação, viagens. E, por isso, posso ficar aqui, abrigado no seio destas palavras que não sei o que dizem ou significam, mas sei – ou penso – que existem em mim ou em algo que penso que sou eu. Escrevo, sim. Ou talvez não.

Vida

É incrível como podemos passar o dia a dia completamente imersos em pensamentos sobre o que há-de vir, concentrados no futuro e em tudo aquilo que queremos vir a conseguir. Podem até ser as coisas mais simples e inocentes, como a "felicidade", ou até coisas mais terra-a-terra. Porém, a verdade é que, muitas vezes, fixamo-nos de tal modo nesse dia-a-dia de procura que acabamos por nos perder em argumentos tão ridículos como a "falta de tempo", ou a "falta de paciência". Corremos e suamos, por vezes passamos noites sem dormir. Às vezes irritamo-nos pelas razões mais ridículas e criamos conflitos onde antes parecia haver apenas amizade. E, no final, estamos tão cansados de acharmos que estamos cansados, e tão agarrados à nossa procura e ao "futuro", que nem sequer temos tempo para pensar no presente. Para nos apercebermos de que a vida é este instante em que alguém escreve, em que alguém lê. Este instante em que podemos disfrutar de cada inspiração e expiração. Este momento, este segundo, esta hora, em que nos podemos sentir vivos. A vida é aqui e agora.

terça-feira, 14 de novembro de 2006

The World where poetry is dead

I stand alone, starring in the dark.
Loneliness comes. She whispers me a sad song
Which the angels did not sing.

Suffering hearts! How they scream for love!
But war and pain is what they get from above
In this world, where Poetry is dead,
Buried in the hearths which no longer dream.

I close my eyes, losing myself,
Hoping for a miracle to happen
But even miracles are forbidden in this reality!
I hear my hearth beat, as if it was the last thing
I would hear in this world of pain
And everything is impossible to overcome…
I fall apart with a dead hearth whispering for salvation
Hoping I would have been a star, twinkling in a constellation
Far… Far away from this nightmare.

If only there was a bit of Poetry left…
It would be so easy to dry all tears
To make stars from bleeding scars
And smiles from the deepest fears…

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Se... (2003)

Se para isso tivesse voz e se houvesse mundo suficiente
Gritaria alto como um trovão e terno como uma carícia
E, entoando teu nome, toda a Terra se cobriria de amor
E a esperança cairia dos céus, estremecendo todo o planeta
E a água e o fogo, a terra e o ar voltar-se-iam a amar.

Se tivesse para isso asas e se Mundo para isso houvesse,
Correria rápido como o desejo e veloz como um arrepio
E correndo em teu nome, toda a Terra se cobriria de ternura
E o sonho voltaria em coração dos Homens, estremecendo o planeta
E a água e o fogo, a terra e o ar, voltar-se-iam a amar...

O Dia em que me viste (2003)

A Brisa tocava o mundo tão docemente,
Enquanto o Sol o iluminava, dando-lhe vida.
O Céu, esse, era espelho de azul magnífico
E na Terra tudo se iluminava à tua passagem!

Impossível! Magia das Magias! Feitiço!
Entre teus passos cuidadosos e encantadores
Paraste, com todo o teu brilho, sorrindo
Fazendo desmaiar cravos e rosas de amores!

Meus olhos eram flores do sol
E só a estrela maior me faria deixar meu estado errante!
Mas como podes tu, estrela incrível,
Dares-me vida, se sou tão pequeno, insignificante?

Mas deste-me! Foste luz onde só o negro imperava!
Pois um só olhar teu ilumina tudo o que existe!
O teu olhar, que tudo cega com esse brilho imenso.
O teu olhar... que tudo apaixona, que é feitiço intenso!

O vento soprou forte e incessante!
O coração bateu forte, mais forte... e de rompante...
O que era, que seria? Tamanho espantar!
Eras tu, a Beleza do mundo, com tua presença de encantar!

A Era dos Descobrimentos Espaciais (I)

A espera revelou-se extremamente recompensadora para Sernot, o comandante-geral da Eva, no dia 1 de Janeiro do ano 2306 da era moderna. Ao fim de tantos anos de construção e preparação da nave, e depois de meses dispendidos na escolha e preparação de toda a equipa tripulante, o maior sonho de juventude de Sernot era então a concretização do mais notável e ambicioso projecto concebido pela humanidade. E Sernot, mais do que qualquer um, sabia o quão árdua tinha sido toda essa extensa etapa do projecto Eva, que chegava ao fim com os últimos preparativos que antecipavam o lançamento. Porém, e ainda que não conseguisse esconder a emoção e alegria que lhe corriam como um fluido pelo sistema nervoso, era também ele o mais cauteloso nas declarações telepáticas à imprensa. "Afinal", pensava Sernot para si mesmo, "mais do que orgulho, devo sentir a tremenda responsabilidade que, quer queira quer não, está depositada em mim".
E não era para menos. Sobretudo porque, ainda que a humanidade olhasse agora para Eva como a salvação de toda uma espécie, e para Sernot como o seu Messias, a verdade é que a missão, prestes a começar, estava longe de poder ser considerada um sucesso. É óbvio que era essa a vontade de todos os intervenientes, directos ou indirectos, mas, dado o objectivo final, a promessa de êxito nunca poderia ser muito mais do que uma simples promessa política dos tempos primitivos.
Todavia, nada disso importava à comunicação social, quase toda ela entusiasmo e confiança. Era de facto extraordinária a diferença de discurso que se verificava entre aquele utilizado para descrever a nave – e tudo o que ela significava – e o utilizado para revelar a "horrível descoberta", feita poucos anos antes, e que, ainda que tivesse dado um empurrão decisivo no projecto Eva, foi também motivo para um pessimismo que nunca antes se abatera sobre a humanidade. Havia sido descoberto o prazo de validade da Terra e – diziam os estudos – a data de expiração aproximava-se a passos larguíssimos. "A Resposta, a Salvação", noticiara o diário wireless World News, no dia do arranque oficial do projecto de Sernot, "chama-se Eva".
- Cidadãs e cidadãos de todo o mundo, é com enorme prazer que vos comunico, enquanto responsável pelo projecto Eva, e na qualidade de comandante-geral, que, tal como previsto, o lançamento da nave espacial Eva, com destino ao planeta SD-GS2056, será realizado amanhã, no horário previamente estabelecido. Assim, e em nome de toda a tripulação, compete-me assegurar que de tudo faremos para agarrar esta fantástica oportunidade de sobrevivência da espécie humana, mas também alertar para todos os perigos e possibilidades de insucesso que teremos de enfrentar. Todavia, e ainda que o calculismo nos obrigue a temer o pior, todos nós sentimos de forma intensíssima que este é o momento, e que não falharemos. Amanhã, cidadãs e cidadãos, começa o nosso maior desafio. Até breve!

Horizonte por achar

rasgo o mar por entre os sonhos
buscando talvez a razão de procurar
aquilo que só há no não existir
e encontrar

venço a fúria de querer ter o que não há
desfazendo a inércia de não ser luz
como quem crê no infinito
e em o olhar

mas no final do tempo há um relógio que desperta

- o mundo recomeçou

Vida

a vida esgota-se a cada instante
rodopia dançando ao sabor
da ilusão do tempo
e escorre-se por entre os dedos
sempre que a tentamos agarrar

Sempre

foi sempre assim
o rio aqui e tu tão longe
a lareira a crepitar em sonhos
e o mundo inalcansável

Eras tu

eras tu no vento
rodopiando em mim
era o teu olhar
ondulando o universo
era a tua pele na minha
a ternura feita brancura.