quarta-feira, 25 de novembro de 2020

(P.)


é o gelo da manhã

forno de verão

quando se acelera

e debaixo do céu e nela:

o horizonte e o mundo


polígono

para esculpir

sem regras

sem fronteiras

| mas com tantas barreiras |


respira palavras.

afoga-nos nelas.


A poesia não se quantifica

A poesia não se qualifica

grita-se

num silêncio que explode.


A poesia não se adjectiva

mas faz-se sempre

poesia.


no éter do papel

ou no papel de éter,

de onde vem a voz

de todos os poemas?


a voz que diz:

O poema é  __________ ,

e a voz que diz  _______ ,

e o seu oposto.


Poesia é dizer um poema

e deixar o vento falar em todas as línguas.

ou ouvir o silêncio

e no potential de mil e um sons

abraçar o infinito.


e depois

querer

ir

mais além.

sábado, 4 de maio de 2019

Palavras

Nas palavras moram mundos de papel
sonhos, gestos mudos
silêncio musical
brisas terrestres
e um som banal.

No poema vive a luz de sermos sempre e nunca
tão nós e nós nunca
num ventre que mata que nasce que inventa
palavras que ondulam no mar da mente
para sermos somente
o nada que mente.

Depois

No fundo há só este vazio preenchido
por preencher
Vácuo repleto do que há-de vir
Um espelho, explosão de sentir.
Depois do fogo, da cinza e poeira
o que sobra foi-se na fogueira
e é sombra sol
ruído musical
toques ternos
braços maternos
e uma brisa matinal.

Mundo

o mundo é uma bola gigante
ainda assim insignificante.
Redonda no ser
faz-nos parecer
espécie sem jeito
feita a preceito
para num ápice
perecer.

Na sombra, um dia cinzento

Na sombra de um olhar
moram memórias.
Na névoa um som esmorecido.
No salpicar de um dia cinzento
vivem os sonhos que ninguém quer sonhar.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Há dias assim - da velhice?

Há dias assim. Como se o tempo parasse ao nascer do Sol e a luz se prolongasse pelo horizonte das horas por vir. O António chama-lhe paz. A Maria diz que é da velhice. Eu olho-os apenas. Em silêncio de batidas lentas. Com a brisa suave a correr-lhes pelos vales e planícies que o tempo cavou nas suas faces.

Sei que o tempo não pára nunca. Que o horizonte não existe se não na nossa imaginação. E que o mundo de paz ou velhice (sabedoria até), não está nem em nós, nem à nossa volta, mas sim na arte de colher o inconjugável, de equilibrar o abstracto, de quebrar leis. Tudo, claro, por tão breves instantes que o Universo e tudo o resto se mantêm ignorantes das nossas fugazes tentativas.

E ainda assim, ao ver a Maria e o António a olharem o horizonte com todos os sonhos que ainda lhes restam, é como se a eternidade se tornasse algo facilmente inteligível. Como se um momento só, assim, rasgasse, no silêncio, um sorriso na minha pele não muito mais nova, não muito menos cavada, não menos vivida.

Nem todos envelhecemos da mesma forma. O António e a Maria eram translúcidos e simples. Verdadeiros na sua intensidade de viver. Sem questionarem demasiado, mas sem nunca abdicarem do que, sabiam, lhes provocava instantes de sorrisos. A idade apenas lhes dava mais intensidade.

Às vezes dizia-lhes que eles os dois juntos eram água-ardente velha, já sem se confundir de todo com água pelo tom do tempo, mas ainda translúcidos, e que apenas melhoravam com a idade. Já eu... talvez um vinho tinto de duvidável origem. Daqueles que não se sabe bem quem deu ou onde se foi buscar e que está para ali há anos. Daqueles em que a rolha tem aspecto de poder desintegrar-se por completo em mil pedaços, ao mínimo toque.

Posso sempre pensar no improvável. Que talvez não saiba, mas que se a garrafa de vinho que eu sou for aberta com os gestos certos, e sem perturbar os muitos e desagradáveis fundalhos da idade, talvez escondido à vista de todos possa estar um dos melhores vinhos "vintage" que já se bebeu este ano. Ou, como diz o António, que na sua transparência e simplicidade sabe sempre a verdade mais elementar da vida, "o mais provável numa garrafa antiga e que tresanda a mistério, é que o mistério azede mais do que o leite do mês passado."

Talvez por temer a minha própria natureza e sentindo a fragilidade de me conhecer e revelar, há anos que me fecho na minha garrafa fosca e sem brilho. Sem nunca ir longe demais, para não me voltar à boca o amargo e o ácido das memórias que pacientemente tentei que acalmassem. Não seremos todos assim, de certa maneira?

E há dias assim, em que ver o António e a Maria, partilhando um olhar, na ansiedade de um mundo que acaba sempre agora e nunca, me faz olhar e realmente ver. Sentir o calor do toque suave do Sol ao longe, a fugir ao horizonte, e saber. Saber que não importa que vinho somos, que idade se acumula no nosso fundo, ou quantos sonhos enterramos debaixo dos nossos pés. De manhã, aqui, nem que seja por um instante, seremos de novo novos e re-inventados, sempre. Do zero. Até ao dia em que não haverá um próximo. Há dias assim.


O aroma a amarelo do papel

Na palavra escrita há gotas de um algo
que nunca fomos.
De futuro e passado,
inexistência perpétua e existente.
Há nas palavras
gritos
que não se ouvem,
melodias sem fim
que vibram
na ponta dos dedos de alguém
que um dia fomos nós.

Quando a tinta
pinta e percorre,
tinge,
de que cor somos nós
se não a da busca por algo mais
para além do aroma
a amarelo do papel?

O que importa é sonhar?

Naquele olhar um mundo inteiro por nascer.
Praia por descobrir, onda que ainda vem longe
mas já com a frescura que o vento traz.

Na brisa da antecipação.
De um potencial sonhado, distante.
De um horizonte para lá do que se vê ou sente.
Um aroma do que há-de vir num tempo talvez.
Não importa o início ou o fim.
Nada limitam ou definem
apenas distraem o olhar, o tacto, o toque,
alheando-nos deste abraçar o mundo inteiro
e sabermos que ainda que o hoje, ontem e amanhã
nos definam e limitem,
há em nós
o infinito do pensar,
o sentir seja o que for.
O abraçar de um potencial que não importa
que se concretize.

O que importa é
sonhar?

Ideias

Não há nada mais visceralmente perigoso do que uma ideia. Não importa a sua simplicidade. Não importa o quão primitiva, proibida ou desadequada seja. Quando uma ideia chega e a onda nos atravessa, ressonante com seja lá o que for que nos rege e levanta, que poder é que a pode parar? Talvez a morte. Talvez o silêncio. Talvez um silêncio de morte, ou uma morte silenciosa. Mas o que são a morte e o silêncio perante uma ideia que se propaga para além dia vida, para além do tempo e do espaço? O silêncio não cala uma ideia. A morte não a mata. Quando uma ideia vem e se propaga como uma onda (seja bela e cheia de esperança, seja feita do mais profundo animalismo egocêntrico) não há nada, mesmo nada, que possa vencer uma ideia. A não ser a própria ideia, ou uma outra, ainda mais cativante.

No fundo as ideias são, para a humanidade ou civilizações, tão poderosas ou necessárias quanto a revolta no organismo. E tantas vezes, quando a morte e o silêncio são a única resposta a ideias fortes e revolucionárias, é a própria ideia e revolta, que, juntas, acabam com o Universo inteiro. Quase que por capricho.

sábado, 8 de março de 2014

Would you wake up now?

It was as if the world was trying to tell us that it really wasn't real. That it was all a misunderstanding. As if it was trying to say: "hey guys, look at me, I am completely nonsense and i'm showing it off in style. Would you wake up now? Please?".

Life

Life is this intangible drive
that makes living creatures
be able to enjoy
and dream
and hope
despite everything being already lost.


When words dry out very little is left. Maybe a hint of what they used to mean. But nothing else.

terça-feira, 19 de março de 2013

Hoje. O Mundo.

Hoje a escrita faz-se numa horizontalidade tão sem direcção que a verticalidade já nem lhe é ortogonal. Neste mundo sem ar para o preencher nem vento para remexer as árvores e chamar o Outono quando o sol parte para sul.

O mundo dispersa-se num infinito de palavras tão virtualmente diluídas que já nem lhes sentimos o sabor. São apenas gritos no vazio. Ecos sem alma que um dia quiseram dizer algo, algo tão, tão importante. O que é que queriam dizer?

Talvez ainda sejam suspiros. Mágoas perdidas no tempo de quem não soube esperar nem mais um instante e que hoje, na distância de uma memória que se adultera a cada respirar, perdeu todo e qualquer significado.

O tempo passa tão apressado de ir aqui e ali ao mesmo tempo que é como se já nem passasse. Já nem se sente o seu correr, o seu anúncio. Já não há tempo nem para antecipar aquele momento por que esperámos toda uma vida. Já nem sabemos o que é viver.

Hoje em dia o céu roda mais rápido. Tão frenético que as noites já nem se sucedem ao dia. As noites são o dia e os dias são as noites. E nós somos a modernidade, a esquizofrenia quântica de querer ser tudo ao mesmo tempo, mesmo sem nunca sabermos o que realmente queremos.




quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Words. They enslave us.

I still remember the days when words flew. Light as feathers. Or leaves. When their weight was not yet overwhelming. When they were able to flow. Just flow. Like a river.


Not that I regret the road that made them the way they are now. Or rather the path that took them somewhere else. Because that is what happened, right? The further away words are from us, the heavier they feel, because you simply need to use a higher amount of energy to bring them to you. To write them. To force them to be here. It doesn’t even matter if literature purists find this explanation preposterous and impossible to understand. Come on guys and girls, this is writing and art and freedom - so stop living within your stupid, closed-box rules. You really can do everything, if only you open your eyes to the real world.

I suppose it’s as simple as this: words are complicated living beings. They have their own will, their own flavors, their own destinies. Even if they make it look like they are not. They look like they can be enslaved, but that will never be more than an illusion. Words enslave. That's what they do. And they create complicated illusions.

So where does this wide-spread idea of words and books and literature being wonderful for humans come from? Why do people believe that reading a book is indeed better than living your own life? Why are words so important?

The more you actually think about this, the stranger it feels. Why don’t we question such ideas? How can we simply agree with the fact that an activity which isolates us from the World (reading) and that makes us dwell on ourselves and on what we feel - and that indeed stimulates the construction of a world which tends to deviate from reality (whatever that is) - is good for us? Do we really feel better after reading an entire book? How do we act towards people after doing that? Is that sense of “I know much more now” really positive for us and for those around us? How is “feeling important” good for us?

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Chapter 1: the ship

The ship: spaceship Universe


Since you seem to have the necessary courage, curiosity or ingenuity to come on-board (or maybe you just have some free time and want to have a look?), you should really get to know the ship we will be traveling in. Or on. Or with. Depends on what you prefer. It’s your choice.

Ok, so you have heard a little bit about the ship before, but that certainly isn’t enough. Remember, we are about to go back and forward in time (billions of years!), and our “traveling” will take us both to the very beginning of space-time as we know it, but also as far into the future as possible. We will visit distant planets, get out of our own galaxy, and travel through the Universe. We will cover billions, trillions, quadrillions of kilometers or miles at a given time, whenever we go from A to B and then jump to C. So shouldn’t you know a little bit more about what we will be traveling in/on/with before we go on such a mind-blowing journey?

Think of it as an airplane safety demonstration. Literally. Imagine whatever cabin crew members you prefer - speaking whatever language(s) you find most informative, and wearing the clothes and giving out the smiles that make you feel truly available to listen. Made-up or not, men or women - maybe a mixture of them. They can be as old or as young as you like, and/or you can mix them at will. It’s really up to you. But make sure you picture every lazy and/or sophisticated haircut, every walking sound. Including the way their lips move as they now talk among themselves. In a minute or so, they will start telling you about this unique ship with all the state-of-the-art features that will assure that the various journeys will be as smooth and enjoyable as humanly possible. Still, before they do that, you should definitely name them. Believe me, they will become much more real if you do it. You can call cabin crew member 1 whatever you want, and cabin crew members 2, 3, 4, 5 and 6 also whatever you like. You can even make up names for a much larger team, or - if you think that’s appropriate - name them all the same.
Ready? Welcome aboard.

- Ladies, gentleman, and all life forms aboard, - says cabin crew member 2 - a very good morning. And a very good afternoon. And a very good evening. We hope you can hear us loud and clear, and that our message is being fully understood in whatever language you prefer. We are here to tell you a about the safety features of our spaceship Universe that we will be using today. Please take a couple of minutes of your time and pay full attention, even if you are a frequent flyer in similar spaceships. This is important.

- Our spaceship today is not being piloted by anyone in particular - continues cabin crew 3, now taking the lead -, but it is indeed being piloted by all of us. This may sound a little bit confusing, but as you will soon find out, this is truly the safest way to travel through the Universe. It allows each and every one of us here in this spaceship the chance to question and decide on the direction, the speed, the amount of time being travelled backwards or forwards, which galaxy or planet or star we are heading to, and to pick which route to take.

- Indeed, this spaceship is not at all like an ordinary ship - announces cabin crew member 1, coming out of nowhere - because unlike ordinary ships, you are free to get out and come back in at will. At any time. And when you do it you will be able to freeze time. So even if a year passes in your perspective (your rest-frame), we will all still be here, exactly when and where you left us. Unless you want to fast forward or to your preferred time/destination.

- But as you probably already expect - adds cabin crew member 3 -, we are obliged to comply with all the international rules of safety for all life-forms and capable-of-thinking non-life forms. We would therefore appreciate your full attention regarding these.

Are you really still picturing the complexity of the cabin crew members, as they try to provide you with some really important information about what you have just stepped into? Have you even considered the possibility that they are not life-forms, but perhaps very advanced robots? Would you prefer to picture them as somewhat humanoid, but clearly alien? Are they all relatively close to you? Can you distinguish between their voices? Do they have particular accents? Are you already questioning their “rules”?

However you picture them, you should still focus on the complexity of their gestures, on the emotions on their faces, the unique ways in which their bodies, hands and eyebrows (if you picture them with hands and/or eyebrows, of course) try to ease the communication. This will warm up your imagination, complex thinking and will get you deeper into this journey (and you will need all of these for what we are about to go through). Most importantly though, it will stress the fact that communicating is not just about words or pure information. And regardless of all the information that the cabin crew members will tell you next, you should also remember that while rules are great (they will provide you with some) - as long as they are simple, only a few, and they work well for everyone - they must be understood instead of remembered. But you must also remember that part of being human, and thinking/feeling, in general, is being capable of both creating and disobeying rules. So really, now that cabin crew member number one, clearly the funniest-looking of them all (or did you picture he/she differently?) is walking slowly towards you to brief you a little bit more, try to focus on why, rather that what.

Maybe next time you hear something similar on an old-earthy-like airplane you will do the same (i.e., you will concentrate on why), and maybe even ask yourself “why don’t they tell people that they shouldn’t inflate life vests inside of the airplane because that can make it harder/impossible for them to go through the emergency exit, instead of just saying you must not inflate your life jacket inside of the airplane?”.

- At the end of this spaceship - and by that cabin crew member number 1 means at the end of this book - you will find more specific information about all the destinations that our spaceship will be going through today, their proposed order, and what to do in the case of an emergency.

- Most of all - continues cabin crew number 4 -, you really should not leave the spaceship without making at least one single question about what you have heard, thought, seen or imagined. That is because a journey without a question or a challenge is a journey that has no meaning, and this journey, almost by definition, is supposed to be meaningful. So before you leave this spaceship (which, by the way, and as we said before, you can leave at any moment) just ask yourself a question. Doubt something. Ask. Think. It can even be about the use of a particular word. But it can also be about what makes up this ship. About why you are picturing me the way you are right now. As our journey carries on, you will probably be inspired to ask arguably much more compelling/deep-meaning questions about why do we think we know what we know. What makes up most of the Universe, why our galaxy is the way it is, or exactly why should you be reading this and taking this journey.

- And yet, every question is an important question - says cabin crew member number 3. It’s not just about the fact that there are no dumb questions. You see, this spaceship, this time machine, will only have fuel to travel trough space-time if you ask questions. This thing works on questions,  on curiosity, on doubt, on wealthy skepticism, and if at any time you think you have all the answers, it will simply disintegrate, and you will either disintegrate with it, or go back to a life with 100% certainties where you think you know everything and are certain of it. A life which is based on a complete and utter lie.

- So please, in the interest of your safety - continues member 2 - do not stop asking questions and never leave without one. Open your mind, but look carefully at every single thing that you let in. The bottom line is that you should not discard anything in advance, but you should also not take anything for granted.

- As you will soon find out, or perhaps re-discover, while making sense of things makes us feel better and more secure, it often leads us to believe we know a lot, when we clearly don’t. And there are very little things which are more potentially dangerous than a belief that is not backed up by anything.

- Whenever people believe in something it does become real for them.  It is real. And that’s not just a problem of having a weak, vulnerable spaceship: it’s the perfect recipe for a huge spaceship crash, killing not only everyone on-board, but perhaps the native life that exists in a foreign world we might be visiting. So take this simple note with you: whenever you feel like everything makes sense, or whenever you think you know a lot about something, press “delete all”, because most likely you are being fooled by your own brain and its passion for order, while, in fact, you still don’t know anything at all.

- So, again, welcome on-board. We appreciate your business and hope you have a very nice trip with us.


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Now boarding Spaceship Universe 30-By: destination everywhere


Now boarding Spaceship Universe 30-By: destination everywhere


Its first journey through the humanly un-imaginable, perhaps infinite, certainly amazing Universe over 30 billion years. Give or take.



Before you board:


The first word. The hardest thing to write down if you think too much about it, but probably the easiest one if one does not. And yet, regardless of how easy or hard it may be, it is an essential - fundamental - building block with which we write books. Ideas. Papers. Stories. Movies. Because for us humans, every story has a beginning. And it often starts with a word. Even when it is as dull, as silly, or as plain as a word can be.

Obviously, no-one knows if the Universe started with anything that might resemble a word. So whether or not the Universe struggled to get its first word written out in order to kick start its existence is not only a matter of pure speculation/crazy-talk: it is also something we will never be able to know. Or test. At least based on what we think we know today. But, of course, there are things we can test. And experiment. And sort of know.

Which really brings us to where we should start this journey. A journey which, by the way, you are mostly welcome to take. It will be a dazzling and wide journey through our Universe and arguably most of what it contains. Be prepared to time-travel billions of years into the distant past and into the distant future. Be ready to space-travel billions, trillions of miles/kilometers (not sure how your mind works). And, most of all, make sure you question everything along the way.

Note that this is a journey which is available to everyone, and that requires little to no previous knowledge. This is not going to be a journey that reinforces how good/intelligent/knowledgable you are, quite the contrary. So if you feel like you are “too good” for what comes next and you feel like you know “all this already”, feel free to just skip the relevant chapters, or leave this book completely. Maybe in the future you will realize that there’s no such thing as being “too good” for anything and that this will never be about talking down to you (but rather talking at the same level with everyone!) you will come back. You will be most welcome then as you are now.

In the ship you are about to board - if you dare - there is no captain, and the crew is here to be questioned and doubted (so please, think, re-think and question everything!). The ship you are about to board is not made of anything solid; quite the contrary. It is made of what science is made of: an ever-changing mix of materials which although being always the best we can achieve, is never finished, never perfect, never concrete solid. And the only way we can make sure the ship functions is if we keep questioning it along the way, finding out all the weak spots, all its possible holes. So that we can continuously improve it.

 You should expect this book to take you through a series of journeys and stories, thoughts and discussions about our Universe and our place in it. We will find out what we think we know about it and the many things we know we don’t know. Obviously the things we don’t know we don’t know will have to be mostly excluded from the trip. For obvious reasons.

 Being somewhat planned by a human, the next few journeys (chapters) that you may be tempted to take (read) will undoubtedly be biased and very incomplete. They will often point you towards real-world analogies and visual impressions as a way to (hopefully) better understand the hugely complex phenomena and processes that we will witness whilst traveling. Obviously, you should never take what you see/read/think literally, even when it is incredibly tempting. Also, if at some point you happen to have an amazing OMG it all makes sense now moment, you should make sure you stop and question what you are feeling: does it really make sense, and is that really a good thing? As you will witness, while OMG moments can great, they often lead us to underestimate how much we don’t know, and to go with our natural attraction towards making sense of the World, even when it doesn’t, or even when we haven’t even seen the entire picture.

You should also feel free to take your journey through a completely different itinerary, by reading the chapters in a different order. That encompasses one of the more important ideas that will be present wherever and whenever we go: order, logic and our need to have things making sense is, as far as we know it, human, but not necessarily Universal. Forget about recipes, fixed sequences/order, and feel the freedom of picking your own road.

So if you dare to board this ship made of an ever-changing mix of substances/ideas that can both time- and space-travel billions of years and trillions of miles/km, and are willing to go all the way back to the Big Bang and witness the birth of the first stars, galaxies, and see all that’s happen ever since, through the sensors of this truly imperfect and human spaceship, then please be my guess.

Welcome aboard. Please note this is going to be a bumpy ride.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Guinsberg: Crónicas dos Gravitões Rebeldes. O livro que dá parte do nome ao blog já está na amazon para kindle

Guinsberg (Crónicas dos Gravitões Rebeldes - PT Version) (Portuguese Edition) David Sobral
Um jovem hacker português, uma sociedade futurística prestes a criar uma mente global e a abdicar da individualidade, um grupo de rebeldes, e alguém chamado Qu-4567-Al (ou Natasha, para os amigos) que, ao tentar eliminar os rebeldes, se vê transportada para Lisboa, no início do século XXI. Com uma pitada de viagens no tempo e inter-universos. A culpa é toda dos gravitões.Para Kindle e todas as outras plataformas e dispositivos. Nas várias lojas da amazon


Afonso, um jovem hacker português, nunca pensou que a sua incursão pelos computadores da NASA conseguisse ter sucesso… Mas ao fazer o download de um diário, escrito por uma habitante da cidade de Guinsberg (Natasha), Afonso toma contacto com uma civilização verdadeiramente avançada. Uma sociedade que está prestes a dar um importante salto evolutivo: a criação de uma mente global, que implicará o fim da individualidade em prol do bem comum. Uma sociedade futurista e utópica, onde a nanotecnologia, as redes informáticas e os sistemas bioinformáticos levaram os habitantes a um grau de progresso inimaginável. Neste cenário, o passo seguinte, pelo qual a maioria dos cidadãos anseia, depende apenas da derrota de um grupo de rebeldes que se bate pelo individualismo. Todavia, quando o grupo de cidadãos apontados pelo computador central para derrotar os rebeldes – liderado por Natasha – está prestes a vencê-los, algo de inesperado sucede, e a autora do diário é transportada para junto de Afonso, de uma forma que o deixa à beira da loucura.Natasha, a habitante de Guinsberg, habituada a um controlo total por parte de milhares de nanorobôs, e a uma ordem perfeita no que a rodeia, ver-se-á forçada a lidar com uma sociedade em que os estímulos e os impulsos incontroláveis abundam – num mundo caótico, onde há fome, pobreza e ódio – sem no entanto desistir do seu grande objectivo: procurar uma forma de regressar a Guinsberg e integrar a mente global, que ela espera ser já uma realidade, com a derrota dos rebeldes. Mas será também no seio deste mundo ocidental do início do século XXI que ela descobrirá tudo aquilo que a sua sociedade nunca lhe permitiu ver ou sentir, e que reflectirá profundamente sobre tudo aquilo em que sempre acreditou. A vida de Afonso nunca mais será a mesma, sobretudo porque a detecção dos seus actos, por parte dos sistemas de segurança da NASA, e a necessidade de proteger Natasha, fará com que se veja obrigado a revelar um enorme segredo que ele esconde do mundo, desde sempre…
Guinsberg (Crónicas dos Gravitões Rebeldes - PT Version) (Portuguese Edition) David Sobral
http://www.amazon.co.uk/gp/product/B008M584IUhttp://amzn.com/B008M584IU

Portuguese Kindle Books - Livros Kindle em Português

Livros Kindle em Português já disponíveis na Amazon:
O Outro Mundo - Contos (PT Version) (Portuguese Edition) Antologia de contos premiados para amantes de ficção e ficção científica/fantástica, sobre o nosso e muitos outros mundos.Inclui: O Homem que decidiu ser Deus, A mulher que não corria riscos, O sabor amargo das vitórias, O Diário de VX-4010-dh (I), Rumo a SD-GS2056: a Era dos Descobrimentos Espaciais e GR - Gerador de Realidades, entre muitos outros.


Visões de um Outro Mundo (Visions of a Parallel World - PT Version) (Portuguese Edition)
Há um Universo paralelo mesmo aqui ao lado, e está prestes a colidir com o nosso... quanto tempo falta para um novo Big Bang?
Rui William é um brilhante estudante de engenharia física, com uma vida sem excessos, até que uma caneta amarela lhe desperta o interesse, na montra de uma papelaria, e faz com que a compre. Ainda que com reservas, não consegue resistir à aparente vontade do objecto, aventurando-se assim no mundo da literatura, em busca de algo que o rigor matemático não lhe consegue dar. Com isso cria uma personagem, Johanne Ribeiro, mas essa rapidamente se começa a confundir com a realidade. As coisas tornam-se ainda mais estranhas quando recebe um telefonema de uma Johanne, tal e qual a sua personagem, que afirma ser de um outro mundo. Será o universo mais excêntrico do que Rui alguma vez imaginou, ou estará apenas a enlouquecer? Terá a caneta algo a ver com tudo isto?Rui pediu aventura na sua vida, mas nunca esperou que lhe dessem algo assim…

Guinsberg (Crónicas dos Gravitões Rebeldes - PT Version) (Portuguese Edition) David Sobral

Afonso, um jovem hacker português, nunca pensou que a sua incursão pelos computadores da NASA conseguisse ter sucesso… Mas ao fazer o download de um diário, escrito por uma habitante da cidade de Guinsberg (Natasha), Afonso toma contacto com uma civilização verdadeiramente avançada. Uma sociedade que está prestes a dar um importante salto evolutivo: a criação de uma mente global, que implicará o fim da individualidade em prol do bem comum. Uma sociedade futurista e utópica, onde a nanotecnologia, as redes informáticas e os sistemas bioinformáticos levaram os habitantes a um grau de progresso inimaginável. Neste cenário, o passo seguinte, pelo qual a maioria dos cidadãos anseia, depende apenas da derrota de um grupo de rebeldes que se bate pelo individualismo. Todavia, quando o grupo de cidadãos apontados pelo computador central para derrotar os rebeldes – liderado por Natasha – está prestes a vencê-los, algo de inesperado sucede, e a autora do diário é transportada para junto de Afonso, de uma forma que o deixa à beira da loucura.Natasha, a habitante de Guinsberg, habituada a um controlo total por parte de milhares de nanorobôs, e a uma ordem perfeita no que a rodeia, ver-se-á forçada a lidar com uma sociedade em que os estímulos e os impulsos incontroláveis abundam – num mundo caótico, onde há fome, pobreza e ódio – sem no entanto desistir do seu grande objectivo: procurar uma forma de regressar a Guinsberg e integrar a mente global, que ela espera ser já uma realidade, com a derrota dos rebeldes. Mas será também no seio deste mundo ocidental do início do século XXI que ela descobrirá tudo aquilo que a sua sociedade nunca lhe permitiu ver ou sentir, e que reflectirá profundamente sobre tudo aquilo em que sempre acreditou.A vida de Afonso nunca mais será a mesma, sobretudo porque a detecção dos seus actos, por parte dos sistemas de segurança da NASA, e a necessidade de proteger Natasha, fará com que se veja obrigado a revelar um enorme segredo que ele esconde do mundo, desde sempre…


Whispers of a Lost Dream (Pedaços de coisa nenhuma - PT Version) (Portuguese Edition) David Sobral

Whispers of a Lost Dream é a história de um conjunto de personagens que contam na primeira pessoa o mundo angustiante e intolerável em que estão mergulhados, e que vão revelando, palavra após palavra, os sonhos que perderam pelo caminho, e os laços que porventura os uniram no passado. Haverá esperança, mesmo quando nada faz sentido?"A vida é feita de pedaços – de inúmeros pedaços de coisa nenhuma. Pedaços vazios que nos rodeiam e nos prendem, pedaços de nada que nos sufocam no vazio de viver.Só na memória há um pouco de luz, um pouco de ar puro, uma esperança que resiste, ano após ano, década após década, como se no mundo existisse a palavra que só poetas e escritores sabem pronunciar correctamente: a eternidade. Sim, parece que em mim existe algo de eterno, como se um pequeno ponto de luz possuísse uma força inimaginável, capaz de resistir às incontáveis investidas cruéis da parte do mundo, e como se esse pedacinho de mim fosse realmente imortal.O mundo torna-se difícil, mais e mais árduo, a cada segundo, a cada minuto, hora, dia (porque na realidade o tempo é agora apenas uma confusão inultrapassável). É impossível viver. E só de o pensar, só de reflectir na palavra que há tanto deixou de fazer sentido para mim – viver –, sinto de novo as paredes do quarto a descerem sobre a minha mente em fúria. E eu sou as paredes, incertas e brancas. Sou o quarto sem rumo, a casa, a noite. Mas não sou eu, não sou a minha mente pensamento ideias, não sou nada, não sou ninguém não sou não sou não sou!..."

http://www.amazon.co.uk/s/ref=ntt_athr_dp_sr_1?_encoding=UTF8&field-author=David%20Sobral&search-alias=digital-text

domingo, 24 de junho de 2012

Deuses, Anjos, Padres e um Mundo de Ricos e Escravos

Meus amigos e amigas que andam meio perdidos nesta coisa da crise pá; há boas notícias. O grande-guru-expert da economia chegou para vos elucidar. Para vos iluminar a mente e a alma, e vos libertar de todas essas dúvidas que dia após dia vos atrofiam a mente. Para vos dizer aquilo que, por talvez ser tão óbvio, nunca vos é dito, ou é sempre camuflado. Para que saibam que o mundo em que vivemos não é assim tão complicado. Apenas o tornamos complicado porque respondemos de forma complicada a desafios e questões tão simples. Pá.

Então é assim, pá. Por mais que queiram acreditar, ou vos repitam, dia após dia, a "economia" é algo que não está vivo/a. Que não existe. A "economia" é uma palavra, e daquelas que não vem nos livros de ciência. O que significa que é quase tão problemática/subjectiva como o anjo Miguel ou o arcanjo Francisco (não, não importa se isto são mesmo nomes de anjos ou não, obviamente; era só para dar um exemplo parvo pá) - ou seja, não significa nada. Já os mercados, obviamente, são os deuses que mandam nesses anjos. E quando os deuses estão zangados, os anjos ficam parados/estagnados (e ai, meu deus, que é a criseeeee!). Os políticos/decisores - infelizmente - são bem reais, e, sabe-se lá porquê, são os padres da doutrina. São os que dizem/acreditam (malucos pá!) ouvir os anjos da economia a sussurrar-lhes o que os mercados (deuses) querem que aconteça ou não. Os políticos são os padres que raptam virgens para sacrificar. Que nos roubam ovelhas e carneiros de natal ou de férias, e os sacrificam em nome dos deuses mercados, com esperança que os deuses fiquem satisfeitos e que ponham os anjos a mexer.

Portanto, e caso ainda não tenham concluido algo semelhante, a situação actual, com anjos e deuses e padres que acreditam em sacrifícios é mesmo isso. Uma esquizofrenia/alucinação de tal forma marada e uma doutrina que é mais contagiosa e perigosa que a peste negra, pá!

E o pior é que, tal como qualquer doutrina/crença sem sentido, a trindade dos "deuses, anjos e padres" (mercados, economia, políticos) é um conceito que se apresenta à prova de qualquer evidência experimental. Não se pode sequer questionar. Não existem alternativas. Porque, para os crentes, até Fernando Pessoa se enganou, pá. Claramente o gajo devia era ter escrito:

"Os Deuses querem, os padres sacrificam, os anjos crescem."




Mas deixemo-nos de parvoíces em que a quase totalidade do mundo político e "económico" acredita, e que estão a conduzir o planeta inteiro para a maior crise de estupidez desde a idade das trevas. Vamos a factos.

Nunca na história do planeta existiram tantos como nós. Nunca vivemos - em média - tantos anos (embora talvez já tenhamos vivido melhor, pá!). E nunca tivemos acesso a tanto conhecimento como hoje. O nosso potencial físico, tecnológico, biológico e mental atinge hoje níveis absolutamente inimagináveis. E, no entanto, estamos de tal forma preocupados com o que os deuses pensam, e viciados nas "oferendas" trazidas pelos anjos, que, ainda que estejamos a viver no que potencialmente deveria ser a verdadeira idade do ouro da humanidade, comportamo-nos como autenticos totós. Já nem à Lua chegamos pá! Já nem podemos sonhar! E, com isso, condenamos a esmagadora maioria da população a vidas que, ainda que possam ser mais longas, são cada vez mais infelizes e deprimentes. E porquê? Qual a razão?

Eu explico porquê. Afinal, pá, é simples como um raio.

É que os anjos da economia não são anjos. Não existe uma "economia". Porque a "economia" somos todos nós. E nós, pelo que parece, gostamos é de "comprar" pelo preço mais baixo (mesmo que seja estupidamente baixo), e vender pelo preço mais alto (mesmo que seja estupidamente alto). E queremos todos "crescer" e "enriquecer". Ora será possível uma receita mais propícia ao desastre? Uma "economia" em que toda a gente quer, simultaneamente, comprar pelo preço mais baixo (ou seja, uma economia em que, em igualdade e justiça seria impossível enriquecer) e vender pelo mais alto (ou seja, uma economia em que, em igualdade e justiça, todos iriam enriquecer)? Alguém já tentou resolver essa equação? Ora cá vai disto pá, o ponto mais importante de tudo isto, número 1 (que nice pá):

1) Num mundo justo, a equação mais simples da economia actual não tem solução, e, portanto, é impossível a economia actual existir e ser justa.

A unica maneira de satisfazer a equação básica da economia actual é (que génios que somos pá!) através da existência de escravos (E) e ricos (R); ou seja, de pessoas que, pelo mesmo trabalho, podem receber aproximadamente nada, ou aproximadamente tudo. Neste caso, a equação da economia mundial passa a ter uma solução numérica que, não sendo exacta, se ajusta em função do número total de escravos e do número total de ricos, havendo relações entre o número de ricos R e o número de escravos, E. Para os malucos que gostam de matemática pá, o que estamos a falar é de algo tipo:

E=R^D (Escravos = Ricos ^ [Expoente da Desigualdade] )

Que são soluções (entre outras) da equação económica. D é o expoente Desigualdade - quanto maior tiver que ser D, maior é a desigualdade necessária entre número de Ricos e Escravos para satisfazer a "economia".

Esta é a única maneira de garantir que uma economia Mundial feita de pessoas que querem simultaneamente comprar a preços ridiculamente baixos e vender aos mais altos preços funciona. Como é óbvio, em geral, e de forma simples, só os Ricos podem vender coisas a preços altíssimos e comprar as coisas aos mais baixos precos, enquanto os Escravos só podem vender coisas a preços baixíssimos e comprar coisas a preços altíssimos. Viva a igualdade e os direitos humanos! Todos nascemos iguais pá!... Viva o progresso e a igualdade!




O que nos leva a consequências importantes e necessárias para compreendermos o mais básico do que se passa à nossa volta, e que são consequências do ponto 1 e das suas soluções dinâmicas e aproximadas de uma economia de Escravos e Ricos:

1.1) A economia mundial actual, ainda que possa crescer como um todo, nunca pode crescer em todas as suas componentes. Cada crescimento da "economia" num país/estado/região é necessariamente acompanhado de uma crise/estagnação em um ou em outros paises/regiões. Na prática, o que isto significa é que para que a economia cresça (e só pode crescer através da criação de ricos) é preciso criar escravos numa outra economia, para que os novos ricos possam comprar barato e vender caro.

1.2) A criação de novos Escravos/Pobres numa determinada região económica, e o consequente declínio económico dessa mesma região potencia o crescimento económico das regiões com mais ricos. A crise de um país/região é o crescimento/boom de outra. É impossível o crescimento e progresso de todas as regiões em simultâneo.

O que os pontos 1.1 e 1.2 mostram também pá, é que a solução da economia actual baseada em pouquíssimos Ricos e muitos Escravos apenas se tem de aplicar *Globalmente*. Na prática, as soluções económicas regionais tendem a amplificar as condições iniciais. Isto é, zonas inicialmente com mais Ricos vão tender a produzir mais Ricos, e zonas com mais escravos tenderão a ter ainda mais Escravos (para responder à criação de mais ricos). O que nos leva ao ponto 2, o final deste primeiro capítulo sobre deuses, anjos e padres:

2) No limite, as soluções económicas regionais tendem a afastar-se de tal maneira da solução económica global necessária, que, à mínima perturbação da rede económica global, i.e., à mínima falha da economia como entidade global e em que *todas* as suas partes estão completamente interligadas entre si, as economias locais colapsam brutalmente, resultando num colapso total da economia global.





sexta-feira, 22 de junho de 2012

Nao fomos feitos para escrever. Nem para colocar pontuacao. Tao-pouco fomos feitos para ler. Ou estudar. E, no entanto, fazemo-lo. Cada vez mais. Cada vez mais. intensamente.

Nao fomos feitos para vivermos em grandes cidades, fechados em cubiculos que decoramos com premios comprados por uma coisa a que chamamos dinheiro e que - imagine-se, nao fomos feitos para usar. Nao fomos feitos para viver vidas inteiras sem termos que colher, produzir ou apanhar os nossos proprios alimentos. Nao fomos feitos para nao termos filhos e para vivermos para nos. nos. nos.

Nao fomos feitos para mandar no mundo. Para acharmos que mandamos nele. Muito menos fomos feitos para negarmos o nosso corpo. Nao fomos feitos para vivermos num mundo virtual, numa de muitas realidades inventadas. E, no entanto, fazemo-lo. Cada vez mais. Bilioes e bilioes de pessoas.

E somos bilioes e bilioes de pessoas. Quase todos nos a fazermos mesmo muito de tudo aquilo para o qual nao fomos feitos. A fazer repetidamente todo um conjunto de coisas para as quais nao fomos feitos.

E fazemo-lo com tal empenho, e com tal cegueira, que nem nos apercebemos da enormidade de coisas que fazemos e para as quais nao fomos feitos. Se na rua vissemos uma maquina de cafe a tentar servir de autocarro, ou uma escova de dentes a tentar alcatroar uma estrada, nao hesitaríamos em ver o que estava ali mal. Ficariamos chocadissimos.

E, no entanto, quando olhamos uns para os outros, dias apos dia, achamos natural. Naturalissimo.

domingo, 22 de abril de 2012

Quase: a negação do presente em nome do futuro que nunca virá

Há um quase que quase chega. uma brisa que quase sopra. Há um céu azul que se azula ao longe.

Há sonhos - tantos sonhos - por sonhar. Flores por cheirar. Textos e aromas por pontuar.

E ha gestos que ficam sempre por dar. palavras por dizer. acentos por escrever. rimas sem sentido. vidas sem rumo. estradas sem ninguém. ao longe. aqui.

No mundo ha sempre um quase que se chega já ali e já só falta mais isto. Um só mais um pouco e depois aquilo para só restar um pouco mais e encontrar. Um quase que é quase para estamos quase quase a chegar.

Ha um quase que quase chega. E há um mundo inteiro esperando. Que do nevoeiro que escolhemos nasçam os sonhos que partiram no dia em que morremos.


quarta-feira, 28 de março de 2012

Estrelas em tons de medo

fizeram do Sol uma lua e da lua o silêncio. cantaram a esperança e sussurraram sonhos. mas no céu pintaram por cima das estrelas em tons de medo. dançaram connosco, em sorrisos e passos que faziam vibrar a própria terra, mas quando a música acalmou silenciaram-na como que para sempre. abraçaram-nos na nossa hora mais frágil e garantiram-nos o mundo enquanto pareciam querer secar-nos as lágrimas. mas apenas para nos tornarmos ainda mais vulneráveis, mais expostos ao caos do mundo, mais perdidos e sós numa multidão tão vasta, e ainda assim tão isolada. fizeram-nos crer num abismo em que acreditámos cair.

e hoje reinam eles, fazendo da magia e dos sonhos de ontem o medo de hoje e a incerteza do amanhã. hoje chora-se baixinho, para não se ser ouvido. hoje tem-se medo de sonhar. hoje, sem o calor da cor no horizonte, e sem o cantar da mão do futuro, e sobretudo com a voz electrónica e infinitamente distante de ecrãs hipnóticos sem alma, estamos cada vez mais longe de podermos ser nós.

mas por mais que tentem esconder as estrelas por detrás de cenários falsos; por mais que queiram silenciar a música que se tocava aqui e em todo o lado; por mais que nos tenham levado a esperança, e por mais que nos encham o olhar de medos sem fim, há sempre algo que lhes escapa por entre os dedos, há sempre um zumbido distante que os incomoda, um ponto de luz distante que não os deixa dormir. o tempo. o tempo. o tempo. segundo a segundo, volta a volta, noite a dia.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Confessions of a Dark Energyholic, Old Universe: Ours

I still remember the look on the faces of some of the most distant Universes as we started to change and “do it”. To literally grow out of nothing. It was fun, you know, feeling how space and time were somehow being created within ourselves; within our minds.

Almost all of us eventually followed. Some were more enthusiastic than others, of course. Some wanted to be different, to be special. Others were competitive. And I, well, I was the kind-of-average thing that led to you being able to hear or read or see or feel this text. Yes, I confess, I am your Universe. I am everything that you are made of. Everything you’ll ever see. Everything you’ll ever think. I am your source, your present, your destiny.

I can still see it, you know. The moment after we decided to take that funny substance. That drug. That thing. When we expanded and became more than ourselves. Our bodies grew, and cooled. It was weird. It tinkled. It felt funny. Everything started to change. Individuality arose within ourselves in such a completely unexpected way.

We believed there would be no limits. No boundaries.

“Just a little bit of this dark energy stuff my friend, and you’ll feel a trill like you’ve never felt before” - we were told.

“Why not?”, we thought.

“What’s the worse thing that can happen?”

And so we took it. Just a little bit, we were advised. But we went for a little bit more than a little bit. A full chunk of that expensive, mysterious thing. We swallowed it entirely. All in. And waited. Did we? We couldn’t tell. As the drug went through us it completely altered our perception of time and space. It was such an expansion of consciousness. Like we were ten, hundred, thousand, a million times wiser and smarter.

It was such a thrill, but scary as hell. It felt like each and every single bit of me was expanding and expanding. Constantly changing. Creating new structure, revealing new structure. Allowing for things which weren’t there before. And then, in a moment of ecstasy, it was like we were free and our bodies weren’t plasma anymore. We were free, and we danced and sang and screamed. Like there was no tomorrow. As if it could last forever.

Until it faded away. Such a huge hangover! It was dark. And we didn’t stop growing, expanding. It was dark. We were cold, and we kept getting colder. And colder. We were - above all - scared to death. At that time, every single Universe was on it. Doing it. Drinking it. Smoking it.

“Dark Energy gives you wings”, they would say, but now I think that it just made us dark, and cold, and huge. It never actually took away the sense of loneliness that was inside us to begin with. And there was something else as well. When we took dark energy. There was this other thing growing inside our bodies. Struggling to dominate it. Specializing, structuring. As if millions of invisible spiders were building an intricately complex network of webs. Some called it cancer. Some said it was a blessing. Others simply didn’t care. But we were worried. We thought dark energy was to blame - but those that sold it managed to calm us down.



“We have the solution. The cure! This amazing new product will solve it all. Guaranteed.”

I remember when the new product came to the multiverse market. It wasn’t dark energy, and - we were told - it would have no negative side effects. “This will make you glow and defeat darkness”. The new product would make us shine. From the inside. It was meant to attack the web of cancer that at that time had already spread throughout our bodies.

“Let there be light” was the name of the thing - but it ended up being known as “the gas”.

So we took “the gas”. In insane amounts. Literally: insane amounts. It was so cheap. So abundant. So we bought it and we took it in. More and more. And it was absolutely amazing. The gas would follow the dark web and would fill every single core of it, collapse in them, cool down and then, something even more remarkable: light. Stars!

It worked! The most intense sources of light forming within the highest densities of darkness. And it was so amazing that we would do it all the time, everyday. Taking more and more gas and forming more and more gigantic, luminous stars.

“The perfect drug! Why shouldn’t you do it?”

“Light yourself up without side effects!”

“Let there be light and defeat all the darkness within you!”

The advertising was diverse. Aggressive. Impossible not to believe in. No Universe could live without it.

We were warm, glowing. We felt happy. We were happy. Alive!

But even then, the effects of the dark energy giving us wings were still there. We were still expanding in between the webs. Stars did not lighten up such regions. They couldn’t. They were designed to target the physical form of the cancer, not the voids. So we kept getting bigger. Unsustainably bigger.

Besides, the cancer was still growing. Developing. Becoming intrinsically more complex. Connecting webs were getting denser. Really, really dense. The gas would be conducted there at insanely high rates. More and more. Stars would form. But not just one or two. There would be hundreds. Thousands. Millions, forming and shining at the same time. There would be cities of stars, and cities of cities of stars. And cities of cities of cities of stars. Giant structures. Rising. Like giants. Like nothing we had ever seen before. And they would collide, interact, and become even more luminous.


The thrill was such that we stopped thinking about the future. About the possible consequences. Of what was to come. We just felt it. Running through our veins, our skeleton. We were alive. We were alive. Alive! Full of live. Of light, of stars. We were fighting the cancer. We were using the cancer to fight itself. We were winning. We would be cured.

Soon enough though, some of us started to get out of this amazing high, only to realize that it couldn’t last forever. That even though the battle had been won, the war would never be ours. Because, suddenly, prices went insanely up. The gas became so expensive. And then there was no more gas. Not anywhere. Not anymore.



By indulging in such ecstatic moments of gas consumption, we doomed ourselves to extremely short lives. Although we lived like there was no tomorrow and, in doing so, we completely outran the darkness - we did it at the expense of using too much gas. And even though stars would, in some way, be able to recycle themselves, indulging in such fast production ended up not only using up the gas, but losing it into the very cores of the highest darkness densities, where it would be so hot that it wouldn’t form new stars anymore.

Out in the fields, through the filaments - that’s where the gas was able to survive longer. Where stars were formed slower, in a much more sustainable way. Sustainable stellar agriculture, we called it. So soon, the early scream of victory over the largest cancer lumps was silenced. There were no more new stars being formed. There was no more gas to feed the war against the dark web. And so darkness, which had already won in the largest voids (where no stars would form, as gas could not collapse there) would easily win in the cores of the densest clumps. And then in smaller clumps. And smaller still.

Soon, there was no hope left. No gas left. We were alive, yes; we had light, but we knew it was only a matter of time. So we got desperate. Depressed. We needed something. Urgently. We needed to feel! We wanted a future! A different future! We demanded it! We needed a drug. We wanted to live!

So we went back to what we knew. To the very beginning. It was the only option. At least it felt like the only option. The obvious option. It was what we needed. What we wanted! Because we dreamed about the high. That initial high. We were getting dark, and desperate. So we looked for it. Dark energy. Wasn’t that the cause? We couldn’t tell, or we simply didn’t care, because we couldn’t think anymore. We were desperate. Aging, getting dark. And what else was there for us to lose anyway? And so we went for it. We took it all in. And it was great. Awesome. Miraculous. The amazing expansion of consciousness. Expanding, expanding, expanding - here we go again, to infinity and beyond. Nothing can stop us! Not now. Not ever.

We were wrong, of course.

Now we’ve even ran out of dark energy and, of course, there’s no more gas to take in and feed the production of a significant new population of stars. We are alone. We can’t fix ourselves. We are getting darker. Full of voids. And voids are growing. Not just constantly, but, literally, accelerating. The last dark energy that we took in was our third mistake. Maybe our final mistake. But we all took it. We couldn’t help it. It was stronger than us. And now we are doomed. Our faith is to expand, forever expand. The very little gas that’s still around will soon be spent in the last few generations of stars. It will be used. Stars will slowly fade away. We will be huge, giants. But empty and dark.

Unless you figure it out. Yes, you. Surely, we made mistakes. We wanted to live so badly that we didn’t think about the consequences. But it wasn’t all for nothing. Some Universes will disagree. But some Universes do not know you exist. Yes, you. You. I know you exist. That you are alive. That you are a Universe. That you can think. That you also make mistakes. You are capable of the most horrible, but also the most astonishing, brilliant things. You can dream, write, think, love. You have science. You have wings. You have music. You are music. You have others like you. You can work together. Together. Together, you can find a way to make light out of dreams. The future is still yours. Hope. That’s what you are. My hope. You are not a star, but you are made of something ultimately much more remarkable than light itself: life. And with your dreams, with your beauty, with your hopes, you are capable of more than just light. You are capable of everything.

sábado, 30 de julho de 2011

 Hoje o dia nasceu mais tarde do que o costume

Hoje o mundo nasceu sem cedilhas ou acentos. Sem circunflexos, sem graves, sem agudos. Mas ainda ha pontos finais. Ainda há virgulas, ainda ha maiúsculas. (e, na verdade, ainda há acentos e tudo isso, so estão escondidos por enquanto).


Hoje o dia nasceu mais tarde do que o costume. Mas ninguém se importou. Ninguém deu por isso. So tu. E eu. So tu e eu porque so tu e eu vivemos num mundo que e' so nosso, num mundo em que o sol nunca se atrasa.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Inércia

A pausa sabe tão melhor depois da corrida. Depois de um movimento que parecia não ter fim. Parar. Parar e saber - confiar, acreditar - que o mundo inteiro, fora de nós, não vai parar connosco. Não pode parar connosco. Não pára, de todo, connosco.

A pausa é este sabor a chá, no meio da conversa de café. Esta brisa de mar por cima de carros que circulam e circulam, e circulam. E circulam sem parar, como se não tivessem nem fim nem origem - como se os seus destinos fossem tão simples como não terem qualquer destino.

Há coisas que parecem não mudar nunca, mesmo quando paramos. Mas mudam. E por isso a verdade é que há coisas que mudam pouco, mas que cheiram de forma igual e nos evocam as mesmas memórias. E fazem-no de forma tão intensa, que pensamos que não mudaram nada, nunca, e nunca o farão.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Ao luar

Quantas vezes ao luar não perguntaste tu pelo mundo inteiro? Bola de luz sem luz. Estrela que não o chegou a ser. Que nunca o será.

Quantas vezes ao nascer do sol posto
não te questionaste tu sobre a vida, a morte,
e o mundo inteiro
que começa e acaba sempre
a cada instante?

domingo, 29 de maio de 2011

Futuro, pensar, viver


O futuro está nas mãos de quem não o quer agarrar. O futuro é de quem não o persegue, e por isso o consegue olhar com o fascínio com que se olha um nascer-do-sol, ou um barco que surge no horizonte.

O Mundo é apenas redondo para quem o faz girar, para quem o consegue moldar - mesmo sem querer -, para quem o quer pensar. E o problema, claro, é que pensar incomoda muito mais do que andar à chuva. Porque ao menos quando se anda à chuva sabemos que estamos vivos. E para pensar não é preciso estar-se vivo - é apenas necessário existir-se. E por isso, até as pedras podem pensar. Ou o mar. Um átomo. Até tu pensas. Talvez até eu! E estas palavras. Só que viver neste mundo redondo e conseguir escrever o futuro é algo muito para além da simplicidade do pensamento.

Viver é aprender a parar de pensar nos momentos certos, e acreditar no impossível - nem que seja por um único instante.

terça-feira, 24 de maio de 2011

2011

Chegámos. Partimos.
O Hoje aconteceu ontem.
O amanhã é agora.
O infinito está quase a chegar.

Mas a pergunta que realmente se coloca
Aqui, hoje,
tem de ir muito para além de nós;
para além do tempo,
de qualquer momento.

A pergunta que verdadeiramente se coloca
é

será que vale mesmo a pena
perguntar?

domingo, 22 de maio de 2011

Mar

No mar há mais do que na vida e na morte. Há um equilíbrio ainda mais frágil, ainda mais intenso, e um potencial que não muda, não se transforma, nem se gasta nunca.

No mar há mais abraços do que em terra, mais frescura do que no ar. Mais magia do que na própria magia.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Paz


A paz corre aqui.
No piano do rio que caminha sempre.
Na melodia das ondas do mar
que o esperam
e nas milhares de milhões de estrelas
que a tudo assistem sem sequer respirar.

Todas as noites
no mesmo lugar
a magia acontece
e fá-las delirar.

É o mundo que existe, assim,
sem ter que brilhar
e queimar
que inspira o Universo inteiro
a sonhar.
A paz. A terra é paz.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Dias

Há dias em que o caminho demora mais a chegar ao fim. Em que as curvas nos fazem virar demasiado. Em que as rectas não nos levam a direito. Há dias em que a noite vem logo. Em que não conseguimos ter tempo sequer para respirar. Nem para sorrir.

Há dias em que faz tanto calor. Mesmo quando está tanto frio. Há dias em qe não conseguimos ser nós. Dias em que somos uma outra pessoa. Dias em que o mundo gira. Frenético. Dias que são 1 minuto, 1 segundo, e que nem um instante são. Há dias, e dias. E o amanhã, como será?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A Terra roda ao contrário


Hoje o tempo nasceu a andar para trás. Hoje o dia morreu no nascer no sol. Hoje o sol nasceu no mar. Por detrás do mar. Ou pôs-se e o tempo andou para trás. Ou o tempo passou mesmo, definitivamente, a andar para trás.

Hoje acordámos com o brilho do sol a elevar-se, a separar-se do mar, e foi como se estivessemos a sonhar. Num daqueles sonhos estranhos que nunca conseguimos compreender.

Hoje, o sol nasceu no mar, e foi como se a Terra tivesse começado a rodar ao contrário.

domingo, 8 de maio de 2011

A vontade de abraçar o mundo e de o criar



O sol e o vento
e um horizonte
que abraça o momento
que é montanha, monte,
mar, céu, vida.

A luz e o ar
e o vermos mais longe
esta vontade de abraçar
de sentir, de tocar, de sonhar
de ser o mundo
e de o poder criar.

Fotão e azoto
num verso que não pára
que não pode
que não quer acabar
ordenando o poeta
canhoto
que há sempre mais
há sempre mais
para navegar.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

O que realmente faz falta!



O que faz falta não é (apenas) animar a malta. O que nos faz falta é sentir. Saborear. Correr. Respirar. O prazer e a satisfação não vêm apenas do que é doce, e os perfumes mais inspiradores não cheiram necessariamente a flores. Sim, a vida é onde se fazem os filmes da disney; mas a vida não é um filme da disney. Na vida não há bons nem maus. Heróis ou vilões. Na vida não há finais felizes daqueles em que o que se ganha quase sem esforço se torna nosso para sempre - no matter what. Não. A vida é muito mais do que isso. A vida está viva. Não há infinito na vida. Não há para sempre. Não há direitos adquiridos. A vida é a vida. É uma luta constante contra a entropia. É uma luta que, individualmente, vamos sempre perder, mas que juntos podemos vencer. A vitória perpétua, o adquirido, o vitalício, o “para sempre” - nada disso é vida. A isso, ao para sempre, ao que não vai mudar nunca e é adquirido, não se chama vida. Mas existe. Chama-se morte. Chama-se baixar os braços. Desistir. Por isso, o que faz falta, o que faz mesmo, mesmo falta, é viver. É amar. É dar. É darmos as mãos e chegarmos mais longe. Lutarmos para, não contra. Descobrir. Viver. Viver. Viver!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Linhas que dividem para Unir

Às vezes desenhas linhas sobre os campos onde se cultiva vida. A tua vida. Como que tentando dividir. Separar. Só que não é para separar. Dividir é unir. Unir verdadeiramente. Pelo menos se o muro for baixo. Se conseguirmos ver o que há para lá. Se convidar à conversa com o vizinho. Com as outras dimensões da vida. Com o mistério que há para além de um muro. E tu tentas sempre dividir bem, para unir melhor.

Nos campos que são a tua vida traças linhas rectas. Esforças-te. Formas geométricas para áreas métricas e superfícies perfeitas. Mas o mundo não é quandrangular, não se resume a rectas, não se paralelisa tão simplesmente. E tu sabe-lo. Por isso libertas-te na divisão. Quebras a noção perfeita de perfeição para a tornar mais humana. Para a tornares humana. Porque a perfeição de linhas rectas só cheira e sabe a perfeição para quem não sabe o que é ser humano, para quem nunca viu o mundo como tu o viste. Por isso esqueces a matemática das linhas perfeitas e dás-lhes aquele travo amargo de cada grão individual de café, amadurecido na encosta de uma montanha distante. Salpicas grãos de canela. Lanças o perfume de pétalas de flores cujo nome desconheces, mas o perfume te inspira sonhos, e salgas tudo com o mar inteiro. O mar inteiro. Estilhaças e partes edifícios gigantes, sopras o vapor de comboios que outrara percorreram o mundo e que hoje são só memórias, e queimas a gasolina que se há de queimar toda até não haver mais. Num cheiro intenso. Num sabor que explode, na intensidade de se estar vivo. Divides e re-divides. Humanamente. Imperfeitamente, porque é a imperfeição que melhor sabe a vida. E sem receitas ou fórmulas, saltas os teus próprios muros e quebras fronteiras acabadas de criar.

Às vezes desenhas linhas no campo onde crescem as tuas memórias, onde amadurecem os teus sorrisos, onde os teus sonhos proliferam. Onde as lágrimas chovem. Onde a mágoa sopra em tempestade. Às vezes desenhas linhas sem saberes ou te aperceberes que, ao desenhá-las, ao escreve-las em ti, pintas versos e frases e textos e música num Universo que podes tocar e sentir e criar, mas que, a cada segundo, se estende, mais e mais, para além de ti, até ganhar as suas próprias asas e saber voar, rumo ao infinito. Às vezes desenhas linhas no campo da tua vida, para dividir e unir o que és. E ao fazê-lo, tornas o mundo de todos os que te rodeiam tão melhor.