O nosso Universo é pequeno demais e a velocidade da luz não chega. Aqui, o céu não é o limite, mas sim o ponto de partida para um (multi-)Universo que se quer sem preconceitos, leis chatas ou um destino do qual não se pode fugir.
domingo, 26 de setembro de 2010
Instante .
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
O silêncio das Palavras
terça-feira, 20 de julho de 2010
Sentido
segunda-feira, 12 de julho de 2010
O sabor amargo das vitórias
Chamo-me Luís, e sempre que chegava em primeiro ficava de rastos. Como se o mundo inteiro me tivesse passado por cima e tudo o que restasse de mim fosse uma fina tira horizontal de carne desfeita. Cada vitória era uma ferida que nunca sarava.
Na verdade, foi ainda em pequeno que aprendi o sabor amargo do sucesso. Por sorte – diziam os meus pais – parecia ter nascido para ser um vencedor. Obrigavam-me a participar em tudo o que eram provas desportivas e – segundo eles – safava-me sempre bem. Tão bem que cheguei a ter uma parede inteira cheia de medalhas minhas, pedaços de metal que os meus pais mostravam com orgulho a todos os vizinhos que nos visitavam. Por outro lado, na escola as coisas corriam igualmente bem, ou até melhor, e choviam bolsas de estudo e prémios de quase todos os cantos.
Contudo, por cada medalha que me colocavam ao pescoço e por cada prémio que vencia, havia um sabor amargo que se tornava cada vez mais difícil de ignorar. Como se cada gota de suor que me corria pelo corpo me esfaqueasse numa violência cada vez mais intensa e essa dor crescesse continuamente em mim. E essa tortura, descobri então, provinha das faces de desilusão dos meus colegas, das suas expressões de ódio para comigo e dos olhares baixos e vencidos que tinham por causa os meus triunfos.
Desta forma, o tempo era para mim o pior inimigo. Porque trazia sempre mais olhares que desesperavam por não terem conseguido o lugar que me fora atribuído, ou a medalha que eu vencera. Por isso, um dia tomei uma decisão. Ergui-me pela manhã e decidi que havia de abandonar tudo. De que me servia o sucesso se não conseguia viver com as desilusões que a minha existência causava? De que serviam as vitórias, se a felicidade que me davam era feita de lágrimas e sofrimento?
Na noite do dia em que decidi mudar a minha vida, disse aos meus pais que nunca mais queria competir com ninguém. Disse-lhes que as vitórias me custavam demasiado e que preferia ser um perdedor para toda a vida. Nessa noite que nunca esquecerei, o meu pai, frustrado com os assuntos do trabalho, chamou-me de vergonha da família e disse-me que se fizesse isso deixaria de ser seu filho, porque estaria a desprezar tudo aquilo que conseguira com a sua ajuda. Eu olhei-o e disse-lhe que a vida se faz numa escolha e que essa é de cada um de nós e saí, sem que o deixasse ver que na minha face se esboçavam pequenas lágrimas de incerteza que só o tempo poderia secar.
Hoje, ainda que muita água tenha corrido pelo rio do tempo, sei que os meus pais continuam a não perceber por que razão me vi forçado a desistir de um caminho tão seguro. Porque eles, como quase toda a gente no mundo, esquecem-se que por cada vencedor há um derrotado, e que sempre que alguém chega mais alto, há um outro que fica pelo caminho. Por isso me custava tanto cortar a meta em primeiro, e por isso o aroma amargo que cada vitória me deixava na consciência. Porque sabia que atrás de mim ficava alguém cheio de sonhos que por minha causa se haviam desfeito na espuma da desilusão.
Agora, ao sabor do sol desta tarde de Verão, sei que finalmente ocupo o meu lugar no cosmos, porque não sou absolutamente ninguém para todas as pessoas que por mim passam. Talvez me chamem vagabundo. Talvez até me desprezem. Mas a verdade é que não há melhor situação do que a de um sem-abrigo para poder devolver a tantas pessoas os sonhos que um dia se perderam delas, ainda que tal tarefa se apresente muitas vezes como algo extraordinariamente difícil.
Agora, tantos anos depois, a vida começa finalmente a fazer sentido. E, pela primeira vez desde há muito, sinto-me verdadeiramente parte deste mundo imperfeito e sou feliz, porque vivo para a vitória de todos aqueles que sonham verdadeiramente com ela e sei que não estou só.
Doce é a medalha a que se renuncia por livre vontade.
As melhores histórias
Diário de uma Guinsberguiana
Visões de Um Outro Mundo: Cap1.2
Whispers
domingo, 27 de junho de 2010
Um novo mundo, um mundo re-inventado, reciclado, ou talvez apenas olhado de forma diferente
sábado, 26 de junho de 2010
Quando as palavras saem à rua
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Um milhão de histórias mais uma
terça-feira, 20 de abril de 2010
Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - VII
Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - VI
Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - V
Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - IV
Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - III
Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - II
Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - I
Um dia
Nós e o Mundo
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
sábado, 23 de janeiro de 2010
Passado - há 7 anos atrás, no DN Jovem

Quando era criança o mundo era tão diferente.
Quando era pequeno o mundo era grande
e eu falava com ele.
As estrelas eram as minhas melhores amigas
e as árvores as minhas confidentes.
Quando era pequeno havia histórias de encantar
que me faziam sorrir
antes de adormecer
e que me faziam sonhar com princesas e reinos distantes.
Mas tudo isso foi há tanto tempo.
Cresci, e o mundo ficou mais pequeno.
E a cada centímetro que crescia parecia que morria
uma princesa e parecia que desaparecia um reino
e parecia que havia menos uma história de encantar
e parecia que já não havia estrelas e já não havia árvores.
Só assim se explica este mundo minúsculo
no qual vivo eu e tu e todos
em que lá fora não há estrelas
e em que dentro de mim
todas as histórias de encantar
estão como os sorrisos
- mortos.
David Sobral, DN Jovem, 2003
A Árvore da Poesia
(a árvore da poesia secou)
talvez até restem alguns frutos
que heroicamente tenham sobrevivido
à queda de ramos que já não existem
porém já nem importam as sementes
(a árvore da poesia secou)
mesmo que uma outra germinasse
de restos de palavras
já não seria poesia.
Seria talvez a natureza
ou o céu - até o luar -
mas não, nunca a poesia,
essa morreu
partiu
secou
jamais voltará.
Gastaram-se as palavras para te definir
e por isso o silêncio
por isso o céu gelado e a noite eterna.
Gastaram-se as palavras para te descrever
e ainda assim
continuas a ser
um fogo de estrelas e de mar.
Poemas
companheira da brisa e do luar
dissolveste-te no aroma de despertar pela manhã
e no oceano azul ondulaste as águas
com o teu corpo de suspiros contidos.
e deste a volta ao mundo inteiro
num sonho que era teu e das estrelas
e no final
cansada
para mais nada tiveste forças
senão para perguntar
- quem sou eu por detrás das palavras com que me escrevem?
David Sobral, 27/05/2005
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
O futuro chegou ontem

Às vezes as palavras perdem o seu merecido lugar na nossa vida. As palavras, e as pausas, e os momentos, e tantas outras coisas. Tantas outras coisas para as quais declaramos abertamente que não temos tempo, ainda que, no mais profundo do nosso ser, essas sejam exactamente as coisas que mais nos fazem sentir realizados, felizes. Há um tic-tac lá fora que nos invade a mente, que nos hipnotiza totalmente, que nos incita a fazer parte da nascente, do rio, da foz, do mar. E não importa por que paisagens passámos, pois o tempo urge que independentemente dos caminhos e da foz - ou até do destino com que um dia sonhámos - no final, todos nós acabamos num mesmo oceano, perdidos numa imensidão que não só não compreendemos, mas que sobretudo nos faz sentir profundamente sós. A mais terrível de todas as solidões que alguma vez se poderia imaginar: o estar só no meio de milhares de milhões de pessoas sós. O futuro chegou ontem, e estamos sempre todos tão atrasados para o receber...
domingo, 18 de outubro de 2009
Retorno e Paz
A verdade é que foram precisos 11 anos para Joaquim voltar ao mundo que o fez crescer e sorrir, ao Universo a que, no mais genuíno do seu ser, ele chamava casa. E, ainda assim, Joaquim sabia que a sua casa já não existia - ou pelo menos a casa do rapaz que os campos viram partir havia 11 anos - essa ruíra no dia em que se tornou órfão. E, ainda assim, havia algo de seu ali. Algo que o fazia sentir o calor do sol de Outubro como um toque do destino, substância invisível que lhe sussurrar as palavras doces que uma mãe canta ao seu filho para o adormecer seguro e confiante. O mundo havia-lhe mostrado visões, sensações, locais e pessoas absolutamente fantásticos e inesquecíveis - e, ainda assim, nada nem ninguém lhe podia tocar tanto quanto este local. Talvez porque cada detalhe, ainda que envelhecido, deteriorado ou desenvolvido, tinha o toque do seu pai e da sua mãe, e dos seus pais antes deles; mais do que isso, cada pedaço do que agora o rodeara cheirava aos seus sonhos de miúdo, a tudo aquilo que o fizera sorrir só de pensar. Cada árvore de fruto, cada flor, cada caminho por entre as ervas que agora cresciam como nunca - em cada detalhe havia uma memória, uma palavra, um gesto. Sim, o mundo lá fora deu a Joaquim as folhas de uma árvore adulta, e a oportunidade de criar um tronco forte o suficiente para finalmente conseguir enfrentar tudo aquilo que a vida lhe tirou; mas era ali, naquele pedaço de terra em que pouco mais se ouvia para além de um silêncio profundo, que Joaquim tinha as suas raízes, o seu solo, a sua água.
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
Mas qual crise!?
Escrevam-me o poema do mundo actual e qualquer um saberá que o difícil será poetizar toda a temática da crise financeira, dos mercados financeiros, da banca, dos bancos, dos bancos a falir, do dinheiro, do dinheiro que não chega, dos biliões que já só são 40 biliões quando ontem eram 80 biliões, ainda que nem interesse a moeda ou a nota, porque no fim de contas eram só contas e projecções, as mesmas feitas pelos investidores e outros ladrões. Há que não esquecer petróleo e tudo o que daí vem ou devém, mas, claro, mesmo aí, há o lucro, essa tão fundamental lei da física que diz que o preço de consumo é sempre superior ao de produção pelo menos por um factor suficiente para com ele se comprar mil e uma coisas que não precisamos e que por isso são tão dispendiosas. Escrevam o poema do mundo actual e temos fartura de tiros e bombas, de atentados e mortes, de desgraças e catástrofes. Fartura de imprensa social, claro (pois oh meu deus, o mundo sem imprensa social é o maior pesadelo de qualquer terrorista e político mal intencionado - manda todos esses para o desemprego sem qualquer hipótese de sobrevivência no ramo!), mas, oh, como viveríamos nós sem o jovem de 14 anos que foi ontem baleado pelo filho de 3 a ser notícia de abertura e primeira página de todos os jornais? E sem o político lambido que garante que não existe outra opção para isto ou aquilo, que a crise é grave - ou, até, para ouvir os nossos maiores líderes referirem-se ao actual estado do país como de uma profunda desgraça, como se o tempo em que vivemos não fosse o melhor de sempre!
E é exactamente aí que o poema acabaria. No que a maioria interpretaria como ironia e crítica social, estaria a verdade: é a crise, é a crise, mas nunca estivemos melhor do que isto! Mas claro, quem pensa assim? Afinal, “no meu tempo é que era”, e isso, juntamente com o encher de peito que são os descobrimentos e a pseudo-grandeza de império passado, fazem sempre (quase) pensar que Portugal foi em tempos um país fantástico, sem fome, sem pobres, justo, onde tudo funciona fantasticamente: um exemplo para o mundo, até para a galáxia inteiro, o Universo!
O que dava mesmo mesmo jeito era saber fazer contas, perceber que quem manda no mundo e no seu destino somos nós - cada um de nós. E quem quiser queixar-se disto ou daquilo e depois passar os dias a ver televisão, beber cerveja, ou fumar todo o tabaco do mundo, sem sequer um esforço sincero que o faça - mas que pelo menos não fira os outros que se esforçam, que trabalham, que alcançam, que não desistem. Porque se ferem esses, então, meus amigos, aí é que temos a crise, mas nem importa a crise financeira ou económica, aí temos a crise real, a que importa - a crise que transforma a humanidade na raça mais estúpida do mundo.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
A Vampira Vegetariana
Afinal, o que havia de diferente na sua vida? Os seus pais trabalhavam bastante, e sobretudo de noite, mas de certo eram empregos fantásticos, porque em casa nunca faltava comida, e da mais deliciosa. De facto, a sopa era sempre tão fresca, e sabia sempre tão bem, embora nunca tivesse visto os seus pais a fazê-la. De qualquer forma, tinha que ser confeccionada por um chéf verdadeiramente fantástico, provavelmente um conhecido do emprego dos pais. Por outro lado, a sua família não era religiosa. Mas isso talvez fosse normal na sociedade moderna. Afinal, e tal como lhe diziam os pais, como é que se pode acreditar em deus, bem ou mal, quando existe a Ciência para mostrar a verdade, e quando as descobertas que se têm feito acerca do mundo não necessitam da existência de deus para as explicar.
Quando Lea completou 12 anos, os pais fizeram questão de a levar a visitar o local de trabalho. Afinal, parecia que queriam que ela continuasse o negócio de família quando crescesse. E, no fim de contas, por que não? Ver não magoava, e estava tão farta de ver os mesmos sítios todos os dias, que até visitar o emprego dos pais lhe parecia o melhor dos presentes de aniversário.
Saíram pouco depois do pôr-do-sol, no carro do pai. Roupas negras - de certo tratava-se da política da empresa em que trabalhavam. De qualquer forma, Lea estava demasiado curiosa para conter todas as perguntas que lhe brotavam na mente.
- Como é o vosso trabalho?
- Algo que começarás a fazer connosco em breve filha.
- Mas o que fazem.
- Trabalhamos bastante para conseguirmos a melhor comida para os três.
- Sim, a comida é sempre fantástica. É um amigo vosso que a faz?
- Que a faz?
- Sim, a sopa deliciosa que trazem sempre para casa depois do emprego. Nunca sabe exactamente ao mesmo, o que é óptimo porque nunca enjoamos, mas parece ter uma consistência fantástica. De certo trata-se da obra de um dos melhores cozinheiros da cidade.
- Bem, filhota, já começas a ser crescidinha. Está na altura de começares a compreender.
- Sim, digam.
- Não é sopa, filha.
- Não é sopa? Créme?
- Também não.
- Oh, então é um cozinheiro ainda mais sofisticado! De que país é?
- Não há nenhum cozinheiro, filhota. É sangue. Sangue humano.
- Como?
- Sim filha. Pensámos que pudesses descobrir por ti própria. Como eu ou o teu pai descobrimos. Mas talvez em nós o desejo de sangue era demasiado grande, e por isso os nossos pais tiveram que nos treinar bem mais cedo do que tu. Eu comecei ainda mais cedo do que o teu pai. E foi na caça que nos conhecemos. Antes de nasceres.
- Mas então nós...
- Somos vampiros filha, sim. Sempre te dissemos que éramos especiais. Mesmo muito. Por isso não te deixamos sair de dia, por isso nada de crucifixos, ou alho. Por isso o sangue.
- E o vosso trabalho é...
- Caça. Caçamos pessoas, e depois bebemos o sangue deles, ou então drenamos para levar para ti, ou para matar a fome durante o dia.
- Não acredito!
- Calma filhota.
- Calma, como posso ter calma?
- Talvez seja melhor voltarmos para casa?
- Sim, quero voltar para casa, e já!
Lea voltou para casa com os seus pais, e, assim que lá chegaram, correu de imediato para o seu quarto, e fechou a porta atrás de si. Como podia ela ser um vampiro? Matar pessoas para beber o seu sangue? Haveria algo mais horrível do que isso? Não, ela refusava-se a matar pessoas, nem que para isso tivesse que morrer ela mesmo.
- Lea, estás bem? Acalma-te, tens de tentar aceitar o que tu és. Nada te pode mudar.
- Deixei-me em paz! Odeio-vos. São os piores pais do mundo!
Lea passou 2 dias sem sair do seu quarto, ignorando todos os apelos dos seus pais, e por vezes vendo televisão. Até que, ao fim desse tempo, e com o estômago literalmente a dar horas, começou a passar um programa sobre vegetarianismo. Sobre a forma como era mais do que possível substituir toda a carne e peixe somente por vegetais. Era até mais saudável. Se ao menos ela fosse uma rapariga normal, então seria vegetariana. Matar humanos era horrível, mas não o era também matar um animal e comer a sua carne? Só o pensamento causava-lhe arrepios (mais do que o facto de ter bebido sangue de humanos ao longo de toda a sua vida).
Todavia, ao terceiro dia, Lea não conseguiu aguentar a fome que lhe corria no corpo. Precisava de sangue, de comida. Mais: precisava de uma caçada. Os seus pais estavam certos: tinha que aceitar quem era. Assim Lea saiu do quarto, sorridente, e, sem os seus pais saberem, saiu de casa. Para a sua primeira caçada.
Livres
palavra por palavra para nos podermos calar
num silêncio de gritos sem fim
num sonho de mundos reais sem sentido.
É preciso morrermos para podermos viver.
Grito da noite
em todas as suas cores
de luz e escuridão
é nele que as vozes se soltam enfim
sem medo
para se tornarem papel e tinta
na mente de quem sonha e vê
no céu de quem sabe que o mundo
não é o mundo
mas um mar inteiro
de si mesmo
um mar tão extenso e verdadeiro
que nem tão-pouco sabe
que o é.
Sem rumo
apenas o palpitar de um violino
o oscilar de uma corda
- talvez o grito de um piano
e uma brisa de uma voz profunda
de um poema sem dono
de uma praia sem gente.
Sem destino, sem rumo.
Sem início ou fim.
Na palavra nascemos
e no poema havemos de ter fim.
Sorriso
muros de lágrimas e areia
que um dia construiste no meu olhar
como um sorriso que nos envolve num momento
e nos acompanha para sempre.
Anúncio
na brisa um anúncio.
Fogos de guerras por travar
num frio de branco de papel por escrever.
Chama
ou na brisa de neve que cai sobre os ombros
há uma onda distante que chama
- sussurra -
como uma chama tímida que quase não aquece
mas ilumina.
Uma estrela no horizonte por achar
arco-íris distante
inalcansável
como um beijo que o tempo não apaga
ou um sorriso que a distância não cura.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
Voar
e voar
Como se os nossos dedos
unidos
fossem o poder do poema
como se as linhas
do nosso destino
fossem a magia de versos de luz
Abraçar as mãos em asas
e voar
pelos céus que criamos a cada toque
a cada carinho
num mundo só nosso.
Abraçar os nossos corpos em asas
e voar.
Matematicopoesia
matemática que indesejadamente transforma
o isolamento em solidão. E talvez o mais triste
seja derivá-la e verificar que f linha, após f linha,
tudo o que se obtém são conjuntos vazios de lágrimas
que a matemática parece não compreender.
sábado, 5 de janeiro de 2008
A Humanidade em Três Mundos - Fast-food II
Aqueles que sempre viveram o mundo seguindo à risca todas as regras e dogmas, e que os aceitaram como verdades profundas, matando a sua própria curiosidade, agindo com base neles e não no seu verdadeiro julgamento ou experiência estendida e não centrada em si mesmo ou na sua própria sociedade - esses são aqueles que ainda se mostram mais estáveis. Senhores de si. Afinal, estão em casa.
Por outro lado, talvez a maioria, neste momento - no mundo “ocidental” - não seja assim. Nascidos sobretudo a partir da geração anterior, os filhos dos dogmas tiveram a oportunidade de olhar o mundo, e ver um pouco mais longe, mas foram desde logo obrigados a fechá-los, e a seguir as regras da sua sociedade, dos seus pais, da sua família, da sua igreja, da sua crença. Mesmo quando perceberam que não faziam qualquer sentido. Para esses, o mundo normalmente não faz qualquer sentido. Consequentemente, as celebrações, as rotinas, o trabalho, tudo se resumo a algo quase completamente forçado, ensaiado - quase pura representação. E existe um limite, que muitos atingem. Depressão, suicídio, isolamento.
Outros, sob pressão, passam para um outro grupo. Um terceiro. Talvez fruto sobretudo da última geração, mas também da primeira: os que olharam longe, foram obrigados a fechar os olhos, mas voltaram a abri-los. Um conjunto de pessoas que, a uma dada altura das suas vidas teve a coragem necessária para saltar o muro, para navegar para um outro continente, para descobrir a lua e outros planetas, para ver para além da nossa perspectiva. Pessoas que, mesmo que acabem por agir tal como as primeiras, segundo determinadas regras, princípios ou crenças, foram capazes de as escolher com base em vivências e experiências diversas. Muitas, porém, vão longe de mais, e são de tal forma rejeitadas pela sociedade que acabam como as do segundo grupo. De qualquer forma, são capazes de pelo menos conseguir esboçar um caminho, definido por eles próprios, onde cada erro, cada decisão, cada viagem são tesouros que não se pode abdicar nunca. Para eles, o arrependimento é o sentimento de quem tem medo de olhar para fora de si mesmo e descobrir o mundo, e arrependem-se apenas do que não fizeram.
E hoje, num mundo ditatorial, onde parece que a grande maioria dos seus habitantes parece pertencer ao grupo dos filhos de gado com olhos de artistas cegos na infância, que futuro podemos esperar?
Ditaduras, Fast-Food e Humanidade
A verdade é que as regras, as crenças, os dogmas e o “bem” são conceitos extremamente úteis numa sociedade primitiva. Formas fantásticas de manter a ordem. Afinal, por que razão se alimentaram ditadores a ouro e prata ao longo da história da humanidade? A humanidade funciona tão facilmente quando não precisa de se olhar ao espelho, quando é simplesmente pastada, quando alguém lhe diz o que fazer, para onde ir, e por que motivo dar a sua vida.
Ao longo da história, a religião também assumiu um dos principais lugares nessa tarefa. Escravizar para dar um propósito e assim dar a sensação de pertença e felicidade, ao mesmo tempo que mantinha sociedades coesas. Mas a um preço. Ditaduras, regras e a lógica do rebanho são uma combinação barata e eficaz, do tipo fast-food. Porém, tal como em qualquer solução milagrosa, existem efeitos secundários. Guerras, conflitos, e toda uma parte da sociedade que simplesmente não consegue seguir a onda, o movimento comum. Revolucionários, perdidos, maus, hereges. Chamem-lhes o que quiserem. O que importa é que a lógica do deus pátria e família simplesmente não resulta com eles. Muitos tentam. Convencem-se a si mesmos de que sim, que se trata do melhor caminho. Mas a vida mostra-lhes que não.
Mas haverá uma outra forma? No fim de contas (dizem-nos sobretudo os apoiantes desta tradicional receita para governar o mundo), sempre que se tentou chegar mais longe, os fracassos foram totais. Regimes que começaram com a utópica filosofia comunista acabaram apenas por ser ditaduras com diferentes ingredientes. E sempre que se tentou conceder um pouco mais de liberdade, a maioria sentiu-se perdida. Sem rumo. E foi o caos.
Todavia, não será tudo isso fruto dos milhares de anos de regras ad-hoc, de dogmas sobre deuses e milagreiros que porventura não fazem qualquer sentido, e de homens com sede de poder que apenas pretendiam encontrar formas de dominar os próximos para atingir o seu lugar ao sol?
sexta-feira, 28 de dezembro de 2007
Espírito Tuga
Porém, ainda mais significativo é o discurso político. Tão próprio, tão característico. Tão nosso! O fado sem guitarra portuguesa, um mundo de lamentações e de sonhos heróicos de tempos que já lá vão (ou nunca foram). Um sebastianismo traçado com a crueldade da palavra saudade. Uma ambição que cresce na voz, mas que apenas se mantém nas gravações e em repetições televisivas.
E é neste mesmo país, em que todos se queixam de crises e crises; de faltas que qualificações espalhadas por toda a sociedade; neste pedaço de terra onde todos se queixam de inércia governamental (embora essa seja talvez a menor), e onde todos pedem mais dinâmica, dinamismo, maturidade - é neste mesmo país que pede jovens com essas características, que os forçamos a serem exactamente o contrário. Que os pais obrigam os filhos a concentrarem-se apenas na escola. A serem “doutores” porque isso lhes dará um estatuto mais elevado, e não porque os tornará mais conhecedores de si mesmos e do mundo à sua volta.
“É hora!”, dizia pessoa, a rematar a mensagem. Mas Portugal continua surdo.
domingo, 14 de janeiro de 2007
What really drives us?
In some sense, life has everything to do with Science. Well, not with “Science” as a “theoretical” or “philosophical” entity, but with the “real” Science. The human Science. The only Science that we know. But why is that? Well, to begin with, Science is “made” by humans, so all the cultural, religious, or even “artistic” background is “always” present in any research. Secondly, Science - unfortunately - is often driven more by unconscious human “emotions” than it is by the more fundamental thing - which is the search for the unanswered questions. This may well be controversial, but truth is also classified that way.
So what’s the purpose around all this thing? Simply to state that even Science - which was suppose to be “above” the every-day world, in the sense that is should respect a couple of “higher” principles - is as human as it could be. And that has a huge importance. Mainly because it implies that the knowledge never evolves as it “should be”. Therefore, we can get periods of time where there’s no more that controversy and argues between the science community - just to know “who” do this or that - and others where single individuals, or even big teams, can show us a better picture of a particular part of the world. In the meantime, new ideas are always being created, but they are often destroyed almost before they are really born. What does this mean? It means that they are neglected before being tested with a real experiment - just because they contradict the knowledge that we accept as absolutely correct. And this gets even “truer” when we get to the fundamental research, something that has so much math and imagination, that often forgets that Science is about the world, not about Maths, Complexity and “mathematical beauty”.
Science has everything to do with life. That’s why it is so interesting, and yet - sometimes - so boring. That’s why it is often driven - in the first place - by a stupid or crazy idea, or even by an unexpected error. And that’s the reason why in Science, as much as in the ordinary life, we need revolutionaries - people that are among the field but are not afraid to raise their voices, and to say what the others simply don’t want to hear. Making them see that we cannot get passionate about the ideas that worked in the past, even when they look so “nice” and “beautiful”. Because if we do that, we will get lost from the real path that can give us the answers about the real world. Answers that we have been looking almost since we became human. And the answers about the real world are not the ones that our mind is expecting!
In the end, it doesn’t matter if those revolutionary men or women “achieve” something in life, in the ordinary meaning of it - because just for defying the system in which they are, exposing its problems and malfunctions, all of these people - along the human history - are real heroes. Some are considered eccentrics, others are seen as the materialization of the word arrogance, and others are hope and religious symbols. But they should all be considered as the engines of human progress and evolution.
quarta-feira, 10 de janeiro de 2007
Blogo
terça-feira, 12 de dezembro de 2006
Santiago de Chile
E acabou-se a conferência em Santiago, no Chile. A 4th Advanced Chilean School of Astrophysics: "Interferometry in the Epoch of ALMA and VLTI". Foram 7 dias memoráveis, que começaram com uma mala que ficou em Madrid e acabaram com videos e fotografias pseudo-artísticas de Lisboa, vista do ar. Pelo caminho ficou o caos tão barulhento mas ao mesmo tempo único de toda a cidade, o metro com pneus de "última tecnologia" (lol), a estação de Santa Luzia, com a decoração doada pelo Metro de Lisboa, os muitos e muitas sul americanos porreiros e que até percebiam português. O pior foi mesmo a estranha noção de "distância" dos chilenos e chilenas, sobretudo com as palavras "perto" ou "rápido" :P. Mas distâncias à parte, ainda deu para ver o céu do hemisfério sul e tudo, a cerca de um quilómetro e meio de altura, com um telescópio nada mau (cerca de 50 cm de abertura, ou seja, um belo monstrinho amador).
Para já ficam algumas das melhores fotos :)
quinta-feira, 7 de dezembro de 2006
Metro de Santiago
segunda-feira, 4 de dezembro de 2006
segunda-feira, 20 de novembro de 2006
Olhar
Para trás
Tudo o que era ficou para trás quando parti. Todos os sonhos, as ambições – e até os pesadelos. Deixei os medos com a mesma naturalidade com que abandonei o amor dos contos de fadas, e matei as memórias felizes com a mesma crueza com que lidei com as mais horripilantes. Despi-me de mim mesmo. Cortei os membros, o peito. Retirei o meu próprio coração. Fiz-me e desfiz-me em pedaços. E, por isso, quando parti, não restava nada de mim. E tudo ficou para trás. Para sempre.
Prosa
Há tantos, que provavelmente até tu
te deixaste cair
na inércia de seres
prosa.
Apenas prosa.
Para sempre prosa.