quarta-feira, 30 de junho de 2004

A Casa

Há anos que as letras partiram sem deixar qualquer rasto que pudesse seguir. A casa, outrora morada de sonhos e paixão, ficou totalmente vazia. Como se nunca tivesse sido habitada.
Entre quatro paredes fiquei apenas eu, ou o que de mim resta. Agora, a única melodia que perfaz o ar é o pesado respirar do meu desespero. Tudo o resto se desfez em pouco em fumo. Ainda assim, as memórias são felizes. E digo-o, porque sempre que as invoco todas as fragrâncias que me inspiravam os sentidos voltam a percorrer-me, ainda que de forma menos intensa.
Às vezes, na insónia da noite, relembro o fluir das palavras. Quando as minhas mãos tinham pedaços de magia e possuíam o dom da vida.
Depois, o amor secou e ficou só a lembrança de ser feliz. Por isso choro, mas faço-o não com o desespero de quem maldiz a vida, mas com a consciência da felicidade que pude abraçar – ainda que por breves instantes. Isto porque se choro, hoje, é porque tive razões para sorrir.
Triste daquele que nunca chorou, porque nunca soube qual o sabor de um sorriso.