quinta-feira, 19 de agosto de 2004

Verdes e Vermelhos

E se o abismo que nos separa
dos verdes troncos com folhas
se resumisse a uma só escolha
fruto da vontade de quem germinava ainda?

Duas células fotossintéticas
discutiam no lodo da vida.
Filósofas de exemplo, antípodas por natureza,
decidiram que a existência tinha de ser
bem mais do que lodo e sol.

E uma houve que escolheu a vida eterna
sonhando com o dia longínquo
em que havia de atingir a luz que no céu espelhava
mesmo sacrificando todas as sensações
que o mundo exterior lhe poderia conceder.

Contudo a outra,
qual Álvaro de Campos,
não se importou de tornar a sua vida curta,
se tal significasse a possibilidade de sentir
cada pedaço do mundo em si
- ainda que isso significasse
consumir todo o mundo.
Não, era impossível chegar ao sol.
E a vida eterna seria um tédio adiado.

A animal preferiu a sensação e o momento
criou a inteligência a partir da sensação
e voou mais alto.
A vegetal escolheu a vida e a eternidade
atingiu o equilíbrio da independência
e a eterna felicidade.