domingo, 26 de setembro de 2010

Instante .

Há um livro que nos desfolha. Páginas feitas de letras que são vida. Páginas com mil dimensões. Com parágrafos do tamanho de mundos.
Há um céu que se estende para além de nós. Uma distância que sentimos infinita. Um mistério. Um sentido?
E há um instante. Há sempre um instante. Eu e tu. A cada sorriso. A cada ponto de luz. Nós. A cada respirar. Uma nova palavra, uma palavra que não serve, um ponto final. Um novo parágrafo, um começo. Um horizonte. Uma viagem.
E eu e tu estamos aqui. Somos um instante. Neste momento que talvez já tenha sido.
E nesta insignificância abraçamos o nada e sonhamos com tudo. Porque o céu é alto, tão alto que nunca o poderemos alcançar, mas nos nossos sonhos - nos nossos sonhos que duram ainda menos do que um instante - tu e eu sabemos que, juntos, um momento é suficiente para durar para sempre .

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O silêncio das Palavras

Sempre que pegava no computador para escrever mil e uma histórias sobre os mundos que viviam no seu mundo, havia vento, havia um ruído e havia uma escuridão que apagavam a luz que, num momento, quase parecia clara. Às vezes quase pensava que a doença estava nas palavras que ele escrevia. Em si. Talvez o seu tempo tivesse passado; ou talvez nunca tivesse sequer chegado. Talvez todas as histórias que se contavam na sua mente não fossem realmente histórias que valessem a pena serem contadas (ou talvez nem estivessem realmente na sua mente). Talvez as personagens que viviam nas histórias que viviam nele não estivessem vivos. Talvez não passassem de espectros, sombras, ilusões, projecções criadas a partir de outros personagens (esses sim, vivos). Ou talvez fosse a imaginação (ou falta dela?). A idade (adulta?) transformara-a. Tornara-a rígida, exigente, metódica e, por isso, ainda que tudo parecesse como antigamente, assim que ele confrontava as ideias com as palavras, tudo se tornava cinzento, feito de sombras; um conjunto de nadas.

Mas depois pegou numa caneta velha amarela e num pedaço de papel com qualquer coisa escrita de um dos lados mas que não interessava a ninguém, e disse what the hell. Disse que se lixe, e colocou a música no máximo. Até o som ser tudo o que existia. E fechou os olhos em palavras e voou nas palavras. E no âmago de um som que tudo dominava voltou a ouvir o respirar das palavras. O silêncio das palavras. E as palavras voltaram, tão ou mais vivas do que nunca. Do que sempre. Às suas mãos.