domingo, 27 de junho de 2010

Um novo mundo, um mundo re-inventado, reciclado, ou talvez apenas olhado de forma diferente

Revolucao. Escrita num papel sem a dimensao suficiente para a conter. Num teclado que nao tem as letras necessarias para a descrever. Pensada por mentes que, sozinhas, sao incapazes de a fazer acontecer. As revolucoes acontecem todos os dias. Ha quem vibre, delire, grite face ao sucesso de uma revolucao. De uma mudanca. Mas, claro, para cada grito de alegria e esperanca, ha pelo menos um sentimento de derrota e negativismo. As revolucoes humanas, por natureza - ou pelo menos as que acabam por ser bem sucedidas - acabam por nunca ser verdadeiras solucoes; sao mais uma especie de aspirina; toma-se, rapidamente nos sentimos melhor, e ate' dura um tempinho, mas no outro dia, acordamos para verificar que os sintomas ainda la estao.

Talvez o problema seja o facto de nunca estarmos contentes. Vivemos na oscilacao ridicula de ideias, adeptos ferrenhos do clube "memoria-curta" que, pelos vistos, e' campeao nacional ano apos ano apos ano. Como se o nosso mundo fosse um barco, mas fossemos demasiado estupidos para nos distribuirmos igualmente por ele e nao o desiquilibrarmos; o que acontece, no entanto, e' que na ansia de termos mais (um carro, uma casa brutal? um lcd novo?) e mais, parece que quando o barco se comeca a virar para um lado, corremos todos para o outro, e de tal forma que passado pouco tempo ja' o barco se comeca a desiquilibrar para esse mesmo lado: hey, e' tempo de correr novamente para o outro lado. Nao deixa de ser um espectaculo com bastante potencial, mais do que nao seja para um Big Brother reles numa estacao extraterrestre.

No entanto, ainda que a maior parte dos "desiquilibrios" da nossa sociedade sejam um resultado directo do nosso proprio desiquilibrio, nao parece ser facil encontrar uma solucao para nos equilibrarmos. E volta-se a gritar revolucao. E a criticar. Afinal, hoje em dia todos gritam opinioes e coisas, e dizem coisas sobre coisas que, aparentemente, na cabeca de quem as escreve, ate' faz sentido (ainda que sejam alta e extremamente dolorosas de ler/ouvir/ver). E' absolutamente extraordinario o estado em que tantas cabecas estao, ao ponto de serem os seres mais cegos, pessimistas e, va la, ridiculamente ilogicos do mundo. Talvez seja culpa da sociedade, do acumular de frustracoes, do facto de nem toda a gente poder ter um lcd de 5 metros (mas o de 2 metros e' sagrado, nem que nao se coma para o resto do ano!), ou de nao se poder ser doutor, ou engenheiro, ou presidente da republica ou, sobretudo, por nao se poder ter la uma coisa chamada emprego que e' so dizer que se tem, receber o dinheirinho ali no banquinho e ir beber ali a bela da cervejinha.

Revolucao? Nao, a "coisa" nao vai la com nenhuma revolucao. A "coisa" nao vai la com mais caos, com mais destruicao. Afinal, o que e' que ha' para destruir que nao fosse logo construido novamente a partir do dia seguinte? Uma mudanca, a serio, digna do nome, que realmente leve a algo melhor, nao pode ser apenas como um produto de super-mercado caro: com uma embalagem fantastica e bonita, mas que, la dentro, nao tem mesmo nada de jeito.

sábado, 26 de junho de 2010

Quando as palavras saem à rua

É quando anoitece que as palavras saem à rua. Quando as ruas são conquistadas por um silêncio vazio, e não mais são um palco agitado do circo da vida, as histórias e as personagens feitas de palavras ganham vida. Timidamente, saem de casa, e dão um passo. E outro, e mais outro. Até que, no pico da noite mais escura e mais profunda, o silêncio completo que ouvimos lá fora, é a maior ilusão - feita da ilusão de palavras. As palavras, que são os corpos de princesas e príncipes, e homens e mulheres e seres e cidades que nunca foram, escrevem silêncio, silêncio, noite. E nós, cegos, absorvemo-las e temos a certeza de que tudo o que há lá fora é silêncio, e noite. Ou então nem sabemos que lá fora há silêncio e noite, porque estamos já longe, bem longe dentro de nós, a sonhar com um mundo que não este, em sonhos e sonhos e sonhos sem fim.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Um milhão de histórias mais uma

Um dia vou escrever um milhão de histórias. Encostar-me ao tronco de uma árvore no meio da floresta, e transformar os raios de luz que pintam o espaço por entre as folhas verdes de Verão em personagens e frases e vidas. Um dia vou correr pelo mundo do faz-de-conta, e escrever histórias sobre outros mundos, com outras pessoas, com outras ideias. Histórias do que podia ser e talvez seja; mas não aqui nem agora. Contos do que o futuro talvez trouxesse, fábulas daquilo que poderia ter sido. Um dia vou sentar-me perto de um rio e escrever as lágrimas que nele correm; pintar a alegria e a tristeza; abraçar a noite para me perder na angústia do medo e morte de alguém que partiu, e sorrir em lágrimas com o pôr-do-sol de um nascimento ou regresso. Um dia vou poder sorrir a todas as minhas personagens, mesmo as que nunca existiram; mesmo as que nunca me sorriram de volta; mesmo as que acham que sou um escritor cruel. Um dia vou correr pelas palavras e não precisar de mais nada. Esquecer o corpo e o mundo que grita lá fora; colocar de parte a angústia e a ânsia de ter que chegar ao céu e respirar o azul do céu das frases feitas das palavras. Das palavras que vão construir todas as histórias, um milhão de histórias diferentes. E, no final, depois de velho e cansado, vou escrever mais uma. Antes de partir.