terça-feira, 20 de abril de 2010

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - VII

A última página, o último texto. O sabor do detalhe das formas e formasa caminhar para o seu fim. A indecisão e o paradoxo. Quando a vida se esgota queremos vivê-la toda. Até à última gota, cheiro, forma, vocábulo. Quando a vida se esgota vem a morte. E a morte é como nos livros do JLP. Diz-se morte e é triste. e não há volta a dar. E agora que escrevo o último texto, no último papel, sinto como nunca a inevitabilidade da morte, da vida e de todas as outras coisas; não como bem e mal, fim e princípio, mas como um pensamento que se aproxima, ao longe, e fica cada vez mais perto, tão perto que chegamos a acreditar que o vamos conseguir atingir, perto mais perto até o tocar e sentir. Mas o papel acaba sempre quando menos se .

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - VI

Há um mundo ali à frente
Sonhado. Meio colorido.
Já ali à frente.
Confuso.
Diferente.
(E o que fica para trás?)
Coragem!
(E o que tenho na mão?)
Apenas ilusão.
Porquê?
É já ali.
Felicidade.

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - V

As palavras nunca partem. Não verdadeiramente. Podem viver num silêncio térrio e profundo durante anos e anos, fechados à chave na caixa escondida dentro de nós. Mas as palavras, ao contrário de nós, não desesperam, não se inquietam, não se revoltam. Talvez por isso pouco ou nada envelheçam. As palavras. As palavras. A vida nelas.

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - IV

Para onde fogem as palavras
quando as tentamos abraçar
nas tinta e sóis
que adoramos?
Onde se escondem as
ideias de luz e cor quando as
dizemos assim, num abrir de
olhos, ao mundo inteiro,
e de repente já nem fazem
qualquer sentido?
Onde se refugia o
sentido de todas as coisas quando
o queremos apertar forte?

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - III

Longe de nós não há eu
que nos prenda e escravize
não há lua nem fogo
ânsia ou desejo.

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - II

A felicidade fuma liberdade em overdoses nucleares. Os sorriros são muito mais humanos, por seu lado, com pequenos-almoços ricos em hiprocrisia. Mas a felicidade não. A felicidade não se controla nem se chama. A felicidade tem mau feitio. E às vezes nunca sai de casa. Dias e semanas e meses e anos. Às vezes para sempre. E, ainda assim, quando aparece, seja o que for que tenha feito antes, a felicidade é como o regresso do filho pródigo que não precisa de o ser para ser amado.

Acima das nuvens, sob o papel, do outro lado do mundo - I

O sonhos são esta coisa estranha a que cheiram as minhas palavras. Os sonhos são os sabores - requintados ou não - dos meus pensamentos, a textura da pele da música que toco quando te abraço a mão. Os sonhos são a luz com que escrevemos as memórias que nos tornam reais e nos fazem sermos nós. Os sonhos, os sonhos são todos esses pedaços de sonhos que nos sonham sonhando connosco. Os pedaços de confusão sem nada que não podemos possuir ou controlar.

Os sonhos são, por isso, o que há de mais genuíno na humanidade.

Um dia

Um dia o mundo vai poder parar. Fechar os olhos por um momento para escutar o rio que corre dentro de nós. Sentir-lhe a frescura, o som, o toque. Um dia vamos poder respirar, só nós connosco todos juntos mas sem eles para nos dizerem o que fazer; inspirar fundo e sabermos que a vida está nas nossas mãos, que existe um continente inteiro para plantarmos todos os nossos sonhos, e um oceano sem fim para os navegar. E se a terra e o mar não chegarem, então teremos tempo para olhar o céu, e em todos os sóis sermos capazes de ver a mesma vida que a terra viu em nós um dia, e em cada ponto de luz sabermos que o somos. Um dia, o universo inteiro vai poder parar para poder viver. Deixar um instante passar sem que o relógio se aperceba; um segundo, um minuto, uma vida inteira num momento - como se não existisse na escuridão do vácuo, mas o necessário, o fulcral, o fundamental para podermos olhar-nos nos olhos, e podermos voltar a estar vivos.

Nós e o Mundo

O mundo é um lugar enorme. Um organismo estranho, um ser que respira sem um ritmo certo, que se alimenta de uma forma quase totalmente aleatória, e que, um dia, talvez - quem sabe - se reproduzirá. O mundo é o lugar onde existimos. Onde nascemos, onde aprendemos a sorrir, onde nos ensinam a chorar, e onde partimos. Esta Terra é o nosso oceano, azul para sonhar, terra para nos prender - e lá em cima, um céu imenso.