sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Espírito Tuga

País das maravilhas caídas do céu e dos grandes milagres que juntam mais pessoas do que muitas causas humanitárias. O lugar do negócio fácil e altamente lucrativo. Falcatruas, pequenos “desvios” de dinheiro, e ilegalidades e “pequenas” mentiras em praticamente todos os sectores da sociedade. O país do faz de conta. Carros topo-de-gama e casa própria, lado a lado com um saldo negativo que nem uma vida inteira de trabalho pode conseguir liquidar. Haverá outro senão Portugal? Bem, talvez sim, mas pelo menos Portugal, esse grande país de descobridores e da conquista do desconhecido é, de certo, um dos mais proeminentes.
Porém, ainda mais significativo é o discurso político. Tão próprio, tão característico. Tão nosso! O fado sem guitarra portuguesa, um mundo de lamentações e de sonhos heróicos de tempos que já lá vão (ou nunca foram). Um sebastianismo traçado com a crueldade da palavra saudade. Uma ambição que cresce na voz, mas que apenas se mantém nas gravações e em repetições televisivas.
E é neste mesmo país, em que todos se queixam de crises e crises; de faltas que qualificações espalhadas por toda a sociedade; neste pedaço de terra onde todos se queixam de inércia governamental (embora essa seja talvez a menor), e onde todos pedem mais dinâmica, dinamismo, maturidade - é neste mesmo país que pede jovens com essas características, que os forçamos a serem exactamente o contrário. Que os pais obrigam os filhos a concentrarem-se apenas na escola. A serem “doutores” porque isso lhes dará um estatuto mais elevado, e não porque os tornará mais conhecedores de si mesmos e do mundo à sua volta.

“É hora!”, dizia pessoa, a rematar a mensagem. Mas Portugal continua surdo.