sábado, 26 de junho de 2010

Quando as palavras saem à rua

É quando anoitece que as palavras saem à rua. Quando as ruas são conquistadas por um silêncio vazio, e não mais são um palco agitado do circo da vida, as histórias e as personagens feitas de palavras ganham vida. Timidamente, saem de casa, e dão um passo. E outro, e mais outro. Até que, no pico da noite mais escura e mais profunda, o silêncio completo que ouvimos lá fora, é a maior ilusão - feita da ilusão de palavras. As palavras, que são os corpos de princesas e príncipes, e homens e mulheres e seres e cidades que nunca foram, escrevem silêncio, silêncio, noite. E nós, cegos, absorvemo-las e temos a certeza de que tudo o que há lá fora é silêncio, e noite. Ou então nem sabemos que lá fora há silêncio e noite, porque estamos já longe, bem longe dentro de nós, a sonhar com um mundo que não este, em sonhos e sonhos e sonhos sem fim.

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