domingo, 3 de outubro de 2004

Ruas desertas

Nas ruas desertas parece não haver a mesma poesia
que as contempla durante o dia. Não é que saiba
como são durante o dia – porque de dia o meu
ser dissipa-se como a escuridão – mas ainda assim,
agora que o silêncio perscruta a calçada suja, mesmo
que só eu caminhe, sinto rumores de milhares de
passos. E há vozes e pastas e corridas. Talvez
por isso me sinta tão bem na solidão de ser noite.
Ser dia é ser o desconcerto. É negar os sonhos.
É cair à voz da crítica. Porque só à noite é que
podemos escutar o universo, sem que a estrela da
morte interfira.

Sem comentários: