quarta-feira, 23 de março de 2005

Jeshoa

Não sei se alguma vez fui divino. Porque para ser divino é preciso que muitos não o sejam e isso seria de todo injusto, algo completamente antagónico à revolução de igualdade com que sempre sonhei. E, ainda que não seja minha intenção contrariar todos aqueles que me veneram como um deus, sinto-me obrigado a dizer-lhes que se assim é, então deveriam ajoelhar-se perante todo e qualquer homem, porque nada mais sou do que um deles.
Gostava de poder olhar para trás e ver a minha mensagem a gerar sorrisos, de ouvir o meu nome pronunciado como um exemplo e não como a imponência, e que se recordassem de mim pela pessoa que fui – e não pela magia que o mundo me atribuiu.
Não fui eu que vos ensinei a rezar, nem tão pouco fui eu que vos motivei a construir edifícios enormes em meu nome. Vim para que fossem mais homens, para devolver a humanidade à humanidade, para despertar os corações dos dogmas cruéis, e nunca para que criassem novas leis e novas sociedades do poder.
A minha mensagem sempre foi a do amor, e jamais (em tempo algum) poderei benzer o sofrimento, seja pelo que for. Porque o maior pecado é negarmos tudo aquilo que somos, receando o castigo divino. Principalmente por tal não existir. Deus não castiga nem recompensa, porque nenhuma razão tem para o fazer. A vida foi-nos dada – é de cada um de nós – e cabe a cada qual, enquanto indivíduo, escolher o seu caminho, com a certeza de que o bem e o mal não passam de dogmas que continuam a afastar o Homem dele mesmo.
Na verdade, creio que quase ninguém compreendeu realmente a minha mensagem Principalmente porque por vezes sinto que se hoje de novo nascesse, mais uma vez a história se repetiria. E seriam aqueles que hoje elevam o meu nome aos céus os primeiros a censurar-me a palavra. Porque eu sou a mudança e a revolução. Porque eu sou a luz que o escuro teme.
E agora, neste instante sem tempo, tantos anos depois, continuo a olhar o Universo inteiro em mim e sei que um dia as pessoas acreditarão em si mesmas, e então compreenderão que Deus existe, sim, mas apenas dentro de si mesmas…

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