domingo, 10 de setembro de 2006

Escrita

Haviam passados meses desde que ele a vira pela última vez. Talvez nenhum deles soubesse o verdadeiro motivo pelo qual se haviam separado. De facto, nenhum se recordava sequer do último instante que juntos partilharam. Como se nunca tivessem sequer dito adeus.
Mas a verdade é que ele não a via há anos, há décadas, há séculos. Ou pelo menos era isso que sentia. Porque onde quer que ele fosse, ela estava lá, mas ele sabia que não a podia voltar a encontrar. Não enquanto não voltasse a entregar-se. A dar-se. Ele sabia que a escrita e ele haviam sido feitos um para o outro. Mas, ainda assim, ele vivia no terror e na dor de não a ter, de não a percorrer com as suas mãos através do papel, de não poder sentir as faces, as cores, os perfumes das personagens que ele, junto com a escrita, criavam e davam vida, nas alegres noites de Verão.
E um dia, um dia ele soube que o momento chegara. Talvez não fosse o local apropriado. Mas ele sabia que não havia lugares apropriados. E por isso, quando uma caneta abandonada junto a um papel o abordou, em curiosidade, tudo foi tão mais forte que ele, e, em momentos, ele e ela souberam, uma vez mais, que ficariam juntos, para sempre.

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