segunda-feira, 28 de março de 2011

Lisboa, 40500 a.D.

Finsk tinha toda a razão quando disse que o cocktail que iríamos beber era o mais forte de sempre. E que o diga a minha cabeça, que ainda não parou de se queixar desde que acordei. Felizmente, parece que não fiquei inconsciente por muito mais do que alguns minutos, mas, ainda assim, não posso perder tempo: é preciso concretizar o propósito que me trouxe até aqui. Preciso de encontrar tecnologia gravitacional – nem que seja um mero protótipo que ainda não esteja a ser desenvolvido. Só esse tipo de tecnologia – e nas mãos de Finsk – pode ajudar Natasha a voltar a Guinsberg…
O mais estranho é que este lugar não tem nada que ver com os filmes de ficção científica. Quer dizer, pelo menos com aqueles que têm por objectivo mostrar um futuro aterrador, no qual a tecnologia conseguiu destruir o mundo inteiro, e onde tudo é fumo, lixo e destruição. Até porque – garanto – há muito que não estava num local tão verde e tão limpo. Como se aqui nem sequer existisse uma civilização humana (sinto um arrepio, mas depois calo os meus próprios pensamentos).
Decido caminhar um pouco, depois de fazer umas roupas improvisadas com algumas folhas. Afinal, para quê preocupar-me? Devo estar num parque natural, só isso. Num futuro avançado, de certeza que será facílimo conceber algo como o que estou a presenciar, num abrir e fechar de olhos (certo?). Todavia, a verdade é que este parque parece não ter fim. Para onde quer que olhe há apenas um conjunto enorme de árvores, e todas com a mesma forma, tamanho e disposição, de maneira que parece impossível conseguir obter um bom ponto de referência. Felizmente é de dia, e o sol ainda vai demorar a pôr-se, o que me confere uma vantagem preciosa em termos de orientação. Ainda que pareça um pouco mais laranja do que seria de esperar (será que viajei assim tanto no tempo para me conseguir aperceber da diferença de actividade do sol?).
Ainda me sinto um pouco zonzo do cocktail de Finsk, mas, lentamente, apercebo-me de que as minhas capacidades mentais se vão restabelecendo totalmente. Por isso, agora que me começo a enervar seriamente com a quantidade aparentemente infinita de árvores, paro, e tento perceber o que é que continua a não fazer sentido para mim. Coço a cabeça, e, quando me apercebo de algo elementar, quase tenho vontade de bater com a cabeça contra todos estes troncos de árvore. Afinal, viajei no tempo, e não no espaço, pelo que tenho de estar em Lisboa… Mas onde está a cidade? Será possível que o futuro a tenha apagado do mapa?
Será que o cocktail de Finsk é assim tão forte para me ter levado para lá do limiar da extinção humana? É verdade que não encontro qualquer sinal de actividade humana, mas tudo me parece demasiado ordenado… como se tivesse sido concebido por uma inteligência que só pode dever-se à acção humana. Por outro lado, será que Finsk se enganou na fórmula, e fui enviado para um passado distante, em que Lisboa era ainda uma terra virgem?

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