domingo, 30 de abril de 2006

Sobre a Natureza das Ideias

Hoje em dia, as ideias já não são o que eram. É verdade que os jovens ainda as discutem por aí – e que, muitas vezes, chegam até a ofender-se verbalmente –, mas a verdade é que, minutos depois, já se abraçam e concordam que, afinal, defendem todos o mesmo, e que o que é bom é ter o belo do dinheirinho a cair na conta no final do mês: o resto não passa do comunismo da velha Rússia – que, de qualquer forma, há muito que foi derrotado. Todavia, no meu tempo era tudo diferente. No meu tempo as ideias tocavam-nos, arrepiavam-nos. No meu tempo as ideias eram tão ou mais vivas do que as próprias pessoas, e quando abraçávamos uma ideia era como se todos nós nos tornássemos nela e, em conjunto, fossemos um só Homem com a força de milhares. Afinal, não foi assim que derrubámos, vezes sem conta, os regimes que nos oprimiam e nos tornavam infelizes?

A força de uma ideia é verdadeiramente inesgotável, porque nela corre o sangue de todos os Homens que a quiserem abraçar e defender. Com uma só ideia – e é nisso que acredito, ainda que hoje, com quase 80 anos, as ideias, para mim, sejam apenas velhas recordações de quando era jovem – o Mundo seria capaz de derrubar toda a tirania e injustiça. No fim de contas, basta uma ideia – uma só ideia, e um mundo inteiro para a entoar – para tornar o mundo inteiro num lugar melhor. E é exactamente por isso que a juventude de hoje me dá tantos desgostos nos debates e nos discursos. Porque ao invés de aprenderem com o passado a força que uma só ideia pode ter, acabam por se acomodar nos confortos mais ridículos que as suas vidas lhes podem oferecer, resignando-se à porra de mundo que hoje temos. Se eu fosse mais novo...

1 comentário:

Anónimo disse...

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