domingo, 30 de abril de 2006

The Wireless Anti-Crime Device

Hector Finsk conseguiu implantar a sua ideia genial há exactamente dez anos. Desde então, o crime e o mal-estar entre seres humanos passaram a ser miragens num passado que nos parece cada vez mais distante. E é por isso que vos digo, com toda a confiança, que a sua ideia, genialmente simples, e tecnologicamente muito bem aplicada, aproximou, de uma forma sem precedentes, a nossa espécie da perfeição.

Agora, graças ao valoroso trabalho de Hector Finsk, qualquer um pode passear livremente pela Terra ou pelo espaço. É verdade que, em tempos, tal acto revelava apenas um extremo gosto pelo perigo, sobretudo devido ao grande número de crimes verificados em todos os locais de acção humana. Contudo, é com grande orgulho que hoje me dirijo a todos vós. Porque hoje, senhoras e senhores, comemoramos juntos o nascimento do wireless anti-crime device – o maior sucesso da civilização moderna.

Todos vós já conhecem a forma como tudo funciona, não é verdade? Todavia, há que cumprir o protocolo, e, por isso, senhoras e senhores, começo por pedir uma salva de palmas para o nosso homem: Hector Finsk, o grande herói da civilização moderna!

Muito obrigado. Muito obrigado, senhoras e senhores. E agora, que de novo o silêncio reina neste nosso coliseu, nesta nossa transmissão em directo para toda a galáxia da cerimónia de comemoração dos dez anos da invenção de Hector, permitam-me que leia as breves notas sobre o wireless anti-crime device. Permitam-me que vos fale na lógica simples que está por detrás dele. Afinal, é o princípio da liberdade e da igualdade que jaz na sua base. O princípio de que todos os seres humanos são livres, e que isso implica, necessariamente, que ninguém pode interferir com a liberdade dos outros.

Afinal, senhoras e senhoras, é neste minúsculo aparelho, neste pequeno chip bioinformático, que mora a base da nossa sociedade. Desde que ele foi implantado em todos os seres humanos, a justiça passou a ser uma instituição quase desnecessária. Afinal, estes pequenos chips estão 24 horas por dia ligadas aos respectivos organismos, comunicando entre si a distâncias que vão até 40 quilómetros. Assim, senhoras e senhores, como todos já sabem, sempre que um ladrão começa a ameaçar uma pobre velhinha, o seu chip envia imediatamente um sinal wireless para o chip do potencial criminoso, que se encarrega de dar uma descarga eléctrica no seu sistema nervoso, de forma a fazer com que sinta dor. Uma dor aguda, insuportável, que se intensificará cada vez mais, até que o atacante desista de ameaçar o seu alvo.

No fim de contas, senhoras e senhores, devemos dar graças a Hector, por todos nós possuirmos este pequeníssimo chip, implantado na nossa nuca. Afinal, graças a ele, podemos quase afirmar que a criminalidade e os sentimentos de agressividade se reduziram a zero. A dor, provocada por este pequeno chip, está a tornar a nossa sociedade num mundo perfeito.

E é por isto, por tudo isto e muito mais, que hoje, na comemoração da primeira década do wireless anti-crime device, tenho orgulho – mesmo muito orgulho – em anunciar que o aparelho foi já incorporado no próprio código genético humano. Isso mesmo! Isso mesmo! Cantemos vitória, porque há uma nova era a surgir no horizonte. A partir de hoje, todos os novos cidadãos do universo poderão gozar, do primeiro ao último dia, da sua liberdade, sem nunca a verem ameaçada pelos outros, porque serão, desde cedo, educados pelos estímulos do chip.

Pois brindemos todos a Hector Finsk, e ao novo wireless anti-crime device completamente gerado pela base genética dos novos humanos, deste mundo que começa agora! Viva!

1 comentário:

Anónimo disse...

Very best site. Keep working. Will return in the near future.
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