sábado, 5 de janeiro de 2008

Ditaduras, Fast-Food e Humanidade

Não escolhemos o momento em que nascemos. Tão-pouco o dia em que finalmente nos olhamos ao espelho e sabemos que a imagem que vemos nos pertence. Que somos quem somos e não quem pensamos que somos. Porém, muitos - senão a maioria - nunca nascerão. Fruto da sociedade, talvez. Da forma como se organiza. Uma necessidade, dirão muitos.
A verdade é que as regras, as crenças, os dogmas e o “bem” são conceitos extremamente úteis numa sociedade primitiva. Formas fantásticas de manter a ordem. Afinal, por que razão se alimentaram ditadores a ouro e prata ao longo da história da humanidade? A humanidade funciona tão facilmente quando não precisa de se olhar ao espelho, quando é simplesmente pastada, quando alguém lhe diz o que fazer, para onde ir, e por que motivo dar a sua vida.
Ao longo da história, a religião também assumiu um dos principais lugares nessa tarefa. Escravizar para dar um propósito e assim dar a sensação de pertença e felicidade, ao mesmo tempo que mantinha sociedades coesas. Mas a um preço. Ditaduras, regras e a lógica do rebanho são uma combinação barata e eficaz, do tipo fast-food. Porém, tal como em qualquer solução milagrosa, existem efeitos secundários. Guerras, conflitos, e toda uma parte da sociedade que simplesmente não consegue seguir a onda, o movimento comum. Revolucionários, perdidos, maus, hereges. Chamem-lhes o que quiserem. O que importa é que a lógica do deus pátria e família simplesmente não resulta com eles. Muitos tentam. Convencem-se a si mesmos de que sim, que se trata do melhor caminho. Mas a vida mostra-lhes que não.
Mas haverá uma outra forma? No fim de contas (dizem-nos sobretudo os apoiantes desta tradicional receita para governar o mundo), sempre que se tentou chegar mais longe, os fracassos foram totais. Regimes que começaram com a utópica filosofia comunista acabaram apenas por ser ditaduras com diferentes ingredientes. E sempre que se tentou conceder um pouco mais de liberdade, a maioria sentiu-se perdida. Sem rumo. E foi o caos.
Todavia, não será tudo isso fruto dos milhares de anos de regras ad-hoc, de dogmas sobre deuses e milagreiros que porventura não fazem qualquer sentido, e de homens com sede de poder que apenas pretendiam encontrar formas de dominar os próximos para atingir o seu lugar ao sol?

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